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Câncer de próstata é mais grave em negros: saiba o que a ciência diz

Fatores genéticos existem, mas desigualdade social também é um contribuinte de peso

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 nov 2023, 08h08 - Publicado em 20 nov 2023, 10h01
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  • O câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais comum entre os homens e a segunda principal causa de morte relacionada a esse tipo de doença no Brasil. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), espera-se que, entre 2023 e 2025, cerca de 72 mil novos casos sejam diagnosticados anualmente. E as pessoas negras estão entre os grupos mais afetados. 

    Trabalhos em vários locais do mundo já mostraram que populações de ascendência africana têm uma maior propensão a desenvolver a doença, maior risco de quadros agressivos e uma maior chance de morrer em decorrência disso. Nos Estados Unidos, onde os números são mais bem consolidados, a probabilidade de diagnóstico é 70% maior entre os negros e o risco de óbito é mais do que duas vezes superior ao observado em pacientes de origem caucasiana. 

    No Brasil, não existem números oficiais que verifiquem a prevalência da doença em pessoas de origem africana, mas um levantamento realizado pela seção de São Paulo da Sociedade Brasileira de Urologia revela uma disparidade. “O que nós vimos é que indivíduos negros e pacientes que chegam pelo Sistema Unico de Sáude (SUS) têm maior índice de doenças mais agressivas e mais avançadas em comparação com pacientes brancos e nipobrasileiros”, diz o líder do Centro de Referência em tumores urológicos do A.C. Camargo Cancer Center, Stênio Zequi.

    A relação entre etnia e algumas neoplasias não se restringe ao câncer de próstata. O câncer de pele, por exemplo, é mais comum em populações brancas, enquanto neoplasias de estômago são muito frequentes em japoneses. A diferença é que, nesses casos, a correlação é bem estabelecida – pessoas com menos melanina são mais suscetíveis a danos causados pelo sol e o consumo de alimentos defumados aumenta o risco da doença no trato digestório. Por outro lado, a causa da maior prevalência do tumor de próstata em pacientes negros ainda é uma incógnita – resultado, diga-se, da falta de pesquisas científicas inclusivas. 

    Nos Estados Unidos, o Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês) oferece uma bolsa especial de pesquisa para investigar essa disparidade. Os resultados estão começando a aparecer e surpreendem: existem, de fato, diferenças genéticas entre os tumores de próstata desenvolvidos pelos negros e pelos brancos, mas, de acordo com os trabalhos, não são profundas o suficiente para justificar as disparidades no diagnóstico. “A maioria dos estudos atuais sugere que essas diferenças se devem principalmente a determinantes sociais da saúde, como o acesso aos planos privados”, afirma a Diretora de Patologia Urológica do Hospital John Hopkins, Tamara Lotan, em entrevista a VEJA. 

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    Isso fica bem claro em uma das publicações mais recentes. Divulgada no periódico científico Journal of Clinical Oncology, a pesquisa realizada em um hospital de Los Angeles mostra que pacientes negros e brancos com o mesmo acesso à saúde respondem de maneira igual ao tratamento para a forma avançada da doença. “Foi interessante descobrir que quando os homens negros e brancos tiveram acesso igual às mesmas terapias, administradas na mesma dosagem e monitorizados no mesmo ambiente, as disparidades nos resultados foram eliminadas”, afirmou, em comunicado, o autor do artigo, Jun Gong. 

    Mais estudos precisam ser realizados para elucidar essa questão por completo. O fator biológico ainda não pode ser descartado, mas a influência de questões comportamentais, ambientais e sociais devem ser levadas em consideração, em especial no Brasil. Por aqui, um boletim divulgado pelo Ministério da Saúde apontou que o racismo ainda dificulta o acesso à saúde e influencia a qualidade do serviço oferecido a pessoas negras.

    “Essa população precisa ser extremamente educada em política de saúde – ela tem que ser alvo da nossa atenção, não só na questão médica, mas na questão da informação”, afirma Alfredo Canalini, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia.

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    Prevenção

    No final de outubro, o Ministério da Saúde e o Inca divulgaram um documento orientando o não rastreio populacional para essa doença, visto que muitos dos tumores são inofensivos e que o diagnóstico precoce não está necessariamente relacionado a diminuição das mortes. Muitos especialistas, contudo, recomendam que pessoas com idade superior aos 45 anos busquem um especialista para discutir a necessidade de fazer os exames.

    Não existe, por enquanto, uma maneira efetiva de evitar o câncer de próstata, mas conhecer os fatores de risco pode ajudar. O principal deles é o envelhecimento. Pessoas obesas ou que tenham parentes que desenvolveram a doença também precisam ficar mais atentas. “Diagnóstico precoce é, sim, um salvador de vidas”, diz Canalini.

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