Desde que as mulheres decidiram entrar no mercado de trabalho e construir uma carreira antes de formar uma família, os filhos vêm nascendo cada vez mais tarde. E graças aos avanços da medicina reprodutiva, como a inseminação artificial e a fertilização in vitro, mesmo mulheres na menopausa são capazes de ter filhos.
Esse foi o caso, por exemplo, da auxiliar de enfermagem Ana Maria Portelo Moreira, de 61 anos, de Londrina, no Paraná, que deu à luz na semana passada ao seu primeiro filho. O pequeno Ian nasceu no dia 30 de outubro, após 39 semanas de gestação — tempo considerado normal para uma gravidez. Assim, como muitas mulheres, Ana Maria priorizou os estudos e a carreira durante os seus anos férteis, o que adiou o seu sonho de ser mãe.
E ela não é a única mãe acima dos 60 anos. Este ano, a indiana Erramati Mangayamma, de 74 anos, deu à luz a gêmeas. Em 2016, outra indiana, Daljinder Kaur, de 72 anos, também teve um filho por reprodução assistida. Na Espanha, María del Carmen Bousada Lara teve gêmeos, em 2006, aos 67 anos. “Casos assim se tornarão cada vez mais frequentes nas próximas décadas”, comenta Edson Borges, especialista em reprodução assistida do Fertility Medical Group.
Isso levanta a pergunta: até que idade a mulher consegue ficar grávida de forma natural ou artificial?
Gravidez tardia
Uma mulher pode conceber de forma natural até os 45 anos, embora a partir dos 38 anos, essa capacidade vá reduzindo drasticamente. No caso da reprodução assistida com óvulos próprios, a idade da mulher também fica em torno dos 45 anos, mas o especialista aconselha que a retirada seja feita até os 30 anos para aumentar as chances de gestação.
A idade está aumentando. Hoje, é mais comum mulheres acima dos 50 anos se submeterem a tratamentos para engravidar. “Quando o óvulo ou o esperma é doado, como foi o caso Ana Maria, não há limite de idade. “O útero demora mais para envelhecer do que os ovários, o que aumenta a possibilidade uma gravidez acima dos 60 anos”, explica Borges, responsável pelo caso de Ana Maria.
O que vai determinar se a mulher pode ou não passar por um procedimento de reprodução assistida é a sua condição de saúde. Não pode haver problemas cardíacos, ginecológicos e/ou psicológicos. Todas essas avaliações são necessárias, pois uma gestação tardia traz diversos riscos, incluindo obesidade, hipertensão, diabetes gestacional e parto prematuro, por exemplo.
É importante que o útero também esteja funcional, caso contrário, não há como o embrião ser implantado já que não há um ambiente favorável para o seu desenvolvimento. “Por trabalhar na área da saúde, Ana Maria foi cuidadosa com a própria saúde. Os resultados dos exames mostraram que ela tinha capacidade de passar por uma gestação de forma segura”, conta Borges.
Por causa disso, o especialista recomenda que qualquer mulher que pretenda adiar a chegada dos filhos, mantenha uma vida saudável e realize avaliações ginecológicas periodicamente.
Caso Ana Maria
Em 2013, quando decidiu que estava na hora de ter filhos, Ana Maria entrou na fila de adoção, mas sentiu imensas dificuldades em encontrar uma criança recém nascida, como era o seu desejo. Em 2015, ela recorreu a uma clínica de reprodução assistida.
A jornada para gerar a criança não foi fácil. A primeira tentativa de implantação de um embrião — formado por espermatozoides e óvulos doados — aconteceu no final de 2015, mas a gestação não evoluiu. Outras quatro tentativas foram feitas, mas não foi possível implantar os embriões, pois Ana Maria teve um estreitamento no útero que impediu o procedimento.
“Para fazermos essas tentativas, tivemos que descongelar o material biológico em todas elas. Isso prejudica a qualidade do embrião e reduz as chances de concepção. Felizmente, Ana Maria teve sorte e conseguiu gerar Ian quando finalmente conseguimos implantar o segundo embrião no útero dela”, comentou Borges.
O pequeno Ian nasceu saudável, pesando 3,4 quilos e medindo 47,5 centímetros. Os dois receberam alta do hospital na sexta-feira passada, um dia após o parto.