Associação de médicos propõe um novo rótulo nos alimentos
A Associação Brasileira de Nutrologia decidiu propôr à Anvisa o modelo Nutri-score, que avalia cada alimento de acordo com sua densidade nutricional
Após anos de discussão, os rótulos dos alimentos irão mudar. Na semana passada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou as iniciativas regulatórias para atualização da rotulagem de alergênicos e para a revisão das regras para rotulagem nutricional de alimentos. De acordo com a agência, a forma como os nutrientes são apresentados atualmente é pouco útil para que as pessoas possam fazer escolhas mais saudáveis na hora de ir às compras.
A agência já vem estudando o tema e deve apresentar uma proposta de nova rotulagem com base em uma série de avaliações que vêm sendo feitas em parceria com entidades de defesa do consumidor, universidades e a própria indústria. Até o momento, as principais propostas de novos modelos foram apresentadas pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e pela Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia) em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
No entanto, a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) defende uma terceira proposta que será apresentada à Anvisa o mais breve possível. Chama de Nutri-score, o modelo defendido pela associação, foi desenvolvido pela Universidade Paris XIII e passou a ser utilizado na França este ano. Basicamente, ele avalia cada alimento de acordo com sua densidade nutricional, ou seja, qualidade nutricional como um todo, incluindo os ingredientes bons e ruins para a saúde.
“Vamos propor à Anvisa o Nutri-score da maneira como ele foi concebido, que avalia o que há de positivo e negativo no mesmo produto e é oposto da rotulagem restritiva, que não nos agrada.”, diz Carlos Alberto Nogueira de Almeida, diretor do Departamento de Nutrologia Pediátrica da Associação Brasileira de Nutrologia.
Como funciona?
As classificações são assinaladas por letras e cores diferentes, que variam do verde (classificação A), para alimentos com a melhor qualidade nutricional, ao laranja escuro (classificação E), para aqueles com a pior qualidade. No estudo desenvolvido na França para decidir qual seria o melhor rótulo nutricional, quatro opções foram comparadas, e o Nutri-score foi considerado o melhor esquema para o consumidor.
O modelo proposto pelo Idec é chamado método de advertência. Baseado no modelo já utilizado no Chile, que utiliza hexágonos pretos como alerta, o projeto consiste em indicar, por meio de triângulos pretos, o alto teor de determinadas substâncias, como açúcar, sódio, gordura saturada, gordura trans e adoçante nos produtos.
“Na nutrologia batalhamos para que a nutrição deixe de ser de proibições e seja de orientações. Por exemplo, uma barra de cereal é boa ou ruim? Depende da hora, da barra e do consumo. E é isso o que o Nutri-score propõe. Tem produtos lácteos e biscoitos, por exemplo, em todas as categorias, de acordo com a composição nutricional de cada um como um todo.”, explica Almeida.
Outros modelos
A proposta desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) foi desenvolvida em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e consiste na ilustração de um selo de advertência na parte da frente da embalagem de alimentos processados e ultraprocessados (como sopas instantâneas, refrigerantes, biscoitos, etc.) para indicar quando há excesso dos nutrientes potencialmente danosos, como açúcar, sódio, gorduras totais, saturadas e trans, e adoçante.
O modelo foi inspirado na rotulagem já utilizada no Chile, que usa um símbolo no formato de octógono preto como alerta.
Já a proposta da Abia e da CNI baseia-se no modelo utilizado no Reino Unido e no Equador que usa as cores do semáforo – verde, amarelo e vermelho – para alertar sobre quantidades de elementos possivelmente nocivas à saúde. Funciona assim: substâncias ilustradas na cor amarela sinalizam que o consumo acima da porção recomendada pode prejudicar o equilíbrio alimentar. Já a cor vermelha demonstra que os níveis do nutriente são considerados altos e a verde, que os níveis do nutriente são baixos ou adequados para o consumo do alimento na porção mostrada.
Além disso, em cada componente é ilustrado a quantidade por porção e em porcentagem em relação a uma dieta de 2.000 calorias diárias.
“Independente do modelo escolhido, queremos que a Anvisa avalie essa nova opção. A proposta final, de repente, pode ser uma adaptação de dois modelos diferentes, quem sabe? O importante é a sociedade se manifestar de forma independente, afinal, a população será a principal impactada”, finaliza Almeida.