As descobertas da ciência para a manutenção da juventude muscular
Pesquisas mostram que a prática regular de atividade física é o antídoto contra o envelhecimento dos músculos. E não precisa ser nada pesado
O organismo humano tem cerca de 600 músculos. Somados, respondem por até metade do peso corporal. Por meio da capacidade de alongamento, contração e relaxamento, eles permitem a execução dos movimentos e a sustentação do esqueleto. É comum, no entanto, que as pessoas só percebam sua relevância quando um deles sofre uma lesão, deixa de cumprir a função por causa de alguma doença ou fica tão fraco na velhice que ações rotineiras como se levantar sozinho da cadeira deixam de ser simples. Danos provocados por machucados são reversíveis. Prejuízos resultantes de enfermidades, também, a depender do mal que está por trás da debilitação.
O que um fascinante conjunto de evidências científicas demonstra agora é que a perda do vigor muscular típica do envelhecimento tem igualmente um poderoso antídoto. Ele está na prática regular de atividades físicas, entendendo como tal a adesão a treinos três vezes por semana misturando exercícios aeróbicos e de musculação, durante a idade adulta. A disciplina impede a redução importante e gradual do estoque de células que, mais tarde, se tornarão fibras musculares. Assim, a dedicação de alguns poucos minutos semanais ao cuidado físico vai garantir no futuro uma polpuda reserva da matéria-prima essencial da força que o corpo precisa para funcionar bem até o final da vida.
A descoberta acrescenta uma informação decisiva para um dos enunciados mais conhecidos da fisiologia dos músculos segundo o qual os exercícios são um dos pilares para uma boa saúde do esqueleto. Estava posto que os filamentos respondem positivamente ao estímulo provocado pela combinação de treinos de força, com pesos, e de resistência, centrados em ações que demandam o consumo de oxigênio. Eles aumentam e ganham robustez, em um fenômeno conhecido como hipertrofia por solicitação. O que não se sabia é que, além desse impacto, a prática cotidiana mantém em funcionamento por anos a fio a linha de produção de novos tecidos. “Mesmo exercícios leves promovem o benefício, protegendo o organismo contra o enfraquecimento muscular associado ao envelhecimento”, diz Casper Soendenbroe, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, autor do estudo mais recente sobre o tema. “Esperamos que o achado incentive mais pessoas a se engajar em atividades com as quais se identifiquem.”
Na pesquisa dos dinamarqueses, foram cotejadas as reações de 46 homens com diferentes estágios de condicionamento. Um grupo era composto de jovens sedentários, outro incluiu idosos com mais de 68 anos também sedentários, enquanto o terceiro reuniu indivíduos com idade acima de 60 anos que se exercitavam rotineiramente desde que haviam entrado na fase adulta. Todos foram submetidos a testes variados de avaliação de força e de função muscular. Exames clínicos e em amostras extraídas de músculos das pernas revelaram uma potência bastante superior entre aqueles que se exercitavam havia décadas. O segredo estava no reservatório de células-tronco apresentado por eles. Células-tronco são como páginas em branco à espera do conteúdo. Elas não têm função definida e, por isso, apresentam a habilidade de gerar tecidos específicos a partir de ordens sinalizadas por um complexo sistema bioquímico que determina qual delas se transformará em células cardíacas, neurológicas ou musculares, por exemplo.
No caso dos participantes do estudo, a concentração das células que criam músculos era tremendamente maior nos adeptos dos exercícios, o que conferia a eles fabuloso poder de renovação dos filamentos. É como se esses indivíduos ao longo da vida formassem uma poupança capaz de manter o vigor depois que o declínio entra em cena, a partir dos 50 anos. As células-tronco, descobriram os europeus, são a fonte da eterna juventude muscular.
Publicado em VEJA de 4 de maio de 2022, edição nº 2787