Após críticas, conselho revoga resolução de telemedicina
Medida ocorre depois de uma série de críticas de conselhos regionais de medicina, que consideraram o texto pouco claro e um risco à relação médico-paciente

O Conselho Federal de Medicina (CFM) revogou a resolução que regulamenta a prática de telemedicina no país. A medida ocorre depois de uma série de críticas de conselhos regionais, que consideraram o texto pouco claro e, sobretudo, um risco para a relação médico-paciente e para a qualidade do atendimento.
Entidades apontaram ainda a falta de debate sobre a normatização. Anunciada no início de fevereiro, a regra permitiria que pacientes em regiões mais afastadas do país tivessem a primeira consulta médica a distância, desde que acompanhados de um outro profissional de saúde, como auxiliar de enfermagem.
No caso de moradores de centros urbanos, as consultas a distância poderiam ser feitas apenas em retornos e sempre intercaladas com outras consultas presenciais. Diante das queixas, o CFM abriu uma consulta para que sugestões fossem encaminhadas.
A ideia inicial era manter o cronograma e não revogar a resolução. Mas, diante do alto número de sugestões, a autarquia voltou atrás e decidiu revogar a norma, que deveria entrar em vigor 90 dias depois da publicação no Diário Oficial da União. Além de consultas, a regra permitia triagem, cirurgias e exames feitos à distância.
A era do doutor robô
Reportagem de capa de VEJA de 8 de fevereiro trouxe a visão de especialistas sobre a resolução do CFM. Segundo Renato Anghinah, professor de neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, conhecer o paciente é essencial. “O médico precisa saber da história de vida, da família, dos problemas e frustrações de cada doente que chega ao consultório. Quanto mais empatia houver com o paciente, mais informações ele conseguirá coletar”, disse.
A partir dos anos 2000, como reação ao fato de a relação médico-paciente ter se tornado técnica e impessoal, surgiu entre os americanos um movimento de “humanização na medicina”, que prega a reaproximação do profissional com o paciente. As faculdades criaram disciplinas específicas para ensinar a boa conduta de um médico.
Críticos do uso da telemedicina afirmam que, por mais que o vídeo tenha alta resolução, que a conexão seja boa, que o microfone tenha bom alcance e o médico do outro lado da tela seja experiente, a consulta a distância pulveriza o convívio primordial. “A humanização precisa ser um princípio básico também da telemedicina”, diz um dos maiores estudiosos do tema no Brasil, Chao Lung Wen, professor da USP.
Na época, O CFM refutou as críticas declarando que a resolução foi resultado de dois anos de amplas discussões deflagradas em todo o país, e não aceitou adiar sua publicação.