Os acidentes de trânsito são responsáveis pela morte de mais de um milhão de pessoas por ano em todo o mundo, alerta relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesta sexta-feira. Segundo a entidade, as lesões causadas pelo trânsito são a principal causa de morte entre crianças e jovens com idade entre 5 e 29 anos. O documento ainda ressaltou que o número de mortes tem aumentado de modo constante: em 2009, por exemplo, haviam sido registrados 1,2 milhão de óbitos; em 2018, subiu para 1,35 milhão.
Mais da metade de todas as mortes no trânsito estão entre os usuários vulneráveis de via pública (pedestres, ciclistas e motociclistas). Globalmente, 29% das vítimas são ocupantes de carros, 28% são usuários de veículos motorizados (duas ou três rodas), 26% são pedestres e ciclistas, e os 17% restantes são usuários de estradas não identificados.
Para especialistas, estas mortes estão relacionadas à redução dos esforços dos governos nacionais na busca por soluções para reverter o problema. “Estas mortes representam um preço inaceitável para a mobilidade. Este relatório é um apelo aos governos e parceiros para que tomem medidas muito mais significativas”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS, em comunicado.
Apesar disso, desde a última edição do relatório da OMS – divulgado em 2015 – três regiões do mundo mostraram queda nas taxas de mortalidade nas estradas: América, Europa e o Pacífico Oeste, região que registrou a redução mais expressiva. Os analistas atribuem os resultados positivos em grande parte a legislações mais severas relacionadas aos principais riscos no trânsito, como velocidade, consumo de álcool, direção perigosa e ausência de cintos de segurança, capacetes de motociclistas ou cadeirinhas para crianças.
Desigualdade
De acordo com o relatório, embora as mortes continuem aumentando, “a taxa de mortalidade em relação ao tamanho da população mundial se estabilizou e declinou em relação ao número de veículos motorizados nos últimos anos”. Nos últimos quinze anos, os números permaneceram relativamente constante (cerca de 18 por 100.000 pessoas). No entanto, essa taxa pode aumentar ou diminuir dependendo do país: o risco de morte nas estradas é três vezes maior nos países pobres em comparação com as nações mais ricas: as taxas mais elevadas de mortalidade estão na África (26,6 para cada 100.000 habitantes) e as menores na Europa (9,3 para cada 100.000 habitantes).
“Embora apenas 1% dos veículos motorizados do mundo estejam em países de baixa renda, 13% das mortes ocorrem nesses países”, diz o relatório. A justificativa para essa diferença está na ausência de medidas para melhorar a segurança em nações com renda mais baixa.
Recomendações
Para Michael R. Bloomberg, fundador e diretor da Bloomberg Philanthropies e embaixador global da OMS, é preciso investir mais na educação do trânsito, na prevenção e atenção à segurança nas estradas e pistas. Segundo ele, é necessário adotar “políticas fortes” e fiscalização, repensar as estradas para que se tornem inteligentes e adotar campanhas de conscientização.
“A segurança no trânsito é uma questão que não recebe nem perto da atenção que merece. [E] é realmente uma das nossas grandes oportunidades para salvar vidas em todo o mundo”, ressaltou. Já a OMS destacou a importância de infraestruturas mais seguras, como pistas reservadas para ciclistas e motociclistas, e a necessidade de reforçar as condições de segurança dos veículos, como o controle eletrônico da estabilidade e dos freios.
Progresso
Mesmo com os números de mortes registrados, também houve progressos, principalmente porque a legislação de forma geral foi aperfeiçoada, visando à redução de riscos, o excesso de velocidade e vetos à ingestão de bebida alcoólica antes da direção. Também há menção à obrigatoriedade quanto ao uso de cintos de segurança e capacetes.
De acordo com o relatório, essas e outras medidas têm contribuído para a redução das mortes no trânsito em 48 países de renda média e alta. Infelizmente, não há dados sobre redução no total de mortes para países de baixa renda.
Leis de trânsito
De acordo com a OMS, dos 175 países participantes do estudo, 140 possuem estratégias nacionais para a segurança no trânsito e 132 dessas estratégias são financiadas. Além disso, em 123 países há leis que atendem às melhores práticas para pelo menos um dos cinco fatores comportamentais de risco: excesso de velocidade, dirigir embriagado, não usar capacetes de motocicleta, não usar cintos de segurança e não usar sistemas de segurança para crianças.
Os dados revelam que 97% da população mundial vive em países que têm leis nacionais de limite de velocidade. Essas leis estão presentes em 169 países, no entanto, apenas 46 atendem às recomendações de melhores práticas, que incluem lei nacional de limite de velocidade e um teto de 50 km/h (quilômetros por hora) nos limites de velocidade urbana. No quesito leis sobre embriaguez ao volante, o número de países que cumprem as medidas recomendadas aumentou dez vezes: 174 adotaram as normas, mas apenas 136 deles definiram limites de concentração de álcool no sangue.
O relatório ainda informou que, dos 161 países com leis nacionais sobre o cinto de segurança, 105 têm leis que atendem às recomendações de melhores práticas. No caso de motoristas de motocicletas e veículos de três rodas, a OMS indica que as leis ainda são fracas. Já para as recomendações de segurança para crianças, 9% da população mundial está coberta por leis que atendem aos critérios estabelecidos.
Críticas
Segundo a CNN, embora avanços tenham sido registrados, eles não aconteceram com rapidez suficiente para atingir as metas da Organização das Nações Unidas (ONU) de reduzir pela metade as mortes no trânsito entre 2016 e 2020. Os dados revelam que apenas quarenta países implementaram pelo menos sete ou todos os oito padrões de segurança, enquanto 124 países aplicaram apenas um ou nenhum deles.
Para a OMS, o padrão de segurança dos veículos em si é “cada vez mais crítico para a prevenção de acidentes e foi mostrado para contribuir para reduções substanciais no número de mortes e ferimentos graves nas estradas”.
(Com AFP e Agência Brasil)