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A maternidade adiada

O poder de decisão da mulher sobre a hora de ter um filho e o aprimoramento da ciência fizeram crescer a procura pelo congelamento de óvulos

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 abr 2019, 15h23 - Publicado em 12 abr 2019, 07h00

“Congele seus óvulos aos 30 anos e eles não envelhecerão com você”, “Congelamento de óvulos pelo preço de um lanche” — frases como essas viajam pelas redes sociais nos Estados Unidos. Elas vendem um negócio que nos últimos anos tem conquistado milhares de adeptas: o congelamento de células sexuais femininas, procedimento feito em clínicas de fertilização. No Brasil, o movimento dá sinais de decolar. Não existem estatísticas oficiais, mas clínicas ouvidas por VEJA calculam que, nos últimos cinco anos, houve um crescimento de cerca de 200%. “As mulheres estão cada vez mais no controle da hora de ter filhos, tenham ou não um parceiro”, diz Edson Borges, diretor médico da Fertility Medical Group, em São Paulo.

ANDRÉA KNABE - “Óvulos jovens e saudáveis, à espera do melhor momento” (Jefferson Coppola/.)

Seja qual for o motivo, profissional ou sentimental, as mulheres têm preferido adiar a maternidade. De acordo com o IBGE, o porcentual de mães que dão à luz pela primeira vez aos 30 anos passou de 22,5%, em 2000, para 30,2%, em 2012, segundo os dados mais recentes disponíveis. A intenção de virar mãe mais tarde se choca com uma realidade: a chance de engravidar naturalmente diminui muito cedo. É de 25% a possibilidade de uma mulher de 25 anos, no auge da fertilidade, engravidar ao longo de cada ciclo menstrual. Cai para 8% no caso de uma mulher de 40 anos, ainda em pleno vigor físico. Diz Márcio Coslovsky, diretor da Clínica Primordia, no Rio de Janeiro: “A queda da fecundidade é causada, sobretudo, pelo envelhecimento dos óvulos”. As mulheres já nascem com o total de células sexuais que o organismo terá a vida inteira. Com o passar dos anos, o ovário libera óvulos em menor quantidade e de menor qualidade.

Em cada ciclo menstrual, na faixa em que a mulher tem entre 18 e 35 anos, sob estímulo da medicina o ovário libera mais facilmente a quantidade de óvulos considerada adequada pelos médicos: dezesseis. “O grande volume é crucial porque nem todo óvulo saudável consegue ter bons resultados na hora de formar um embrião”, diz Cláudia Gomes Padilla, diretora-médica do Grupo Huntington, em São Paulo. O valor médio de um procedimento de congelamento gira em torno de 15 000 reais. Para manter os óvulos armazenados, pagam-se 1 000 reais anuais. Eles duram para sempre.

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(./.)

Além da mudança de comportamento, o avanço científico ajudou a aumentar o interesse em conservar óvulos. A técnica tradicional, que usava mecanismos de congelamento lento, com duração de mais uma hora, danificava muitas células. Essa demora deflagrava a formação de cristais de gelo que agrediam os óvulos. Agora, trabalha-se com outro recurso, a vitrificação. Por meio dela, o óvulo é congelado em segundos, o que impede a formação dos cristais. A vitrificação faz com que nove em cada dez óvulos fiquem ilesos. Antes, apenas seis em cada dez prosperavam. Pesquisadores do Brigham and Womens’s Hospital, em Boston, desenvolveram uma tabela que calcula a taxa de sucesso na gestação de um bebê a partir do congelamento de óvulos. Até os 35 anos, chega a espantosos 85%. Em tese, a mulher que armazenar suas células sexuais nessa etapa da vida, quando for implantá-­las de volta, para engravidar, terá essa mesmíssima probabilidade de fecundação em qualquer idade posterior. É a ciência a serviço das mudanças de comportamento. A paulista Andréa de Carvalho Knabe, uma anestesista de 36 anos, decidiu congelar seus óvulos aos 32 anos. “Achei que não era hora de ter um bebê, apesar da vontade do meu marido. Não hesitei. Hoje tenho dezesseis óvulos guardados, saudáveis, à espera do melhor momento.”

Publicado em VEJA de 17 de abril de 2019, edição nº 2630

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