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Uma jogada de classe

Adeus, moletom. Nas viagens da Copa de 2018, a seleção brasileira vai usar terno de corte moderno, do tipo slim fit, com paletó e calça justos ao corpo

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 29 mar 2018, 18h27 - Publicado em 29 mar 2018, 18h21

Deixados aos próprios desígnios, jogadores de futebol costumam privilegiar firulas na aparência: roupas espalhafatosas, diamantes nas orelhas e nos cordões, cabelos — bem, melhor nem comentar os cabelos. Tudo bem. São jovens, são ricos e têm todo o direito de ostentar. Quando se apresentam como time, porém, uma dose de sensatez pode ser sinônimo de elegância. Daí ter sido saudada com elogios a decisão da CBF de vestir a seleção brasileira com terno e gravata nas viagens e ocasiões oficiais desta Copa do Mundo de 2018. O escolhido para requintar o grupo foi Ricardo Almeida, de 62 anos, alfaiate de famosos, o mesmo que Neymar tem acionado desde que resolveu refinar o guarda-­roupa. “Foram avaliados os trabalhos de quatro estilistas nacionais, de acordo com o projeto técnico e econômico”, explica Edu Gaspar, coordenador de seleções da CBF e responsável pela encomenda. A estreia será no dia 27 de maio, quando os 23 craques deixam a Granja Comary, em Teresópolis, e embarcam — nos trinques — para Londres, a primeira escala da viagem até Sochi, na Rússia.

O costume — nome correto do conjunto calça-paletó — desenhado por Almeida para a seleção é de lã fria em trama de fios nas cores azul-royal e preto, que resulta em um tecido azul-­marinho com efeito changeant, ou seja, ele muda sutilmente de tom conforme a incidência de luz. No forro do blazer, Almeida carregou no simbolismo. Linhas amarelas compõem formas geométricas inspiradas no construtivismo russo. Salpicadas aqui e ali, encontram-se imagens das taças dos anos em que a seleção brasileira foi campeã. A gravata de seda também é azul. “O monocromático não é ideal em um ambiente corporativo. Mas, como se trata de jogadores jovens, é bom fugir do tradicional”, aprova o consultor de imagem Alexandre Taleb.

O corte é daqueles que não perdoam imperfeições: o chamado slim fit, de calça e paletó apertados e curtos. “Procuro sempre fazer a roupa o mais junto ao corpo possível, até o ponto em que não incomoda quem vai usá-la. Quanto mais fiel à silhueta a peça for, mais elegante o dono ficará. Afinal, a pessoa faz academia para quê?”, brinca Almeida. Os ternos sequinhos circulam nas passarelas há décadas, mas só recentemente venceram as resistências e passaram a moldar, justos e curtos como nunca, os homens elegantes que não têm nada a esconder. Em tapetes vermelhos como o do Oscar, a impressão às vezes é que o bonitão alto e forte veste um número abaixo do adequado. “A roupa coladinha é consequência de uma cultura que valoriza a construção do corpo. Isso não era comum no universo masculino, mas agora é parte do visual do homem da metrópole que faz academia, musculação e cirurgia plástica”, diz o especialista em moda masculina Mário Queiroz. O slim fit fica perfeito em quem tem físico atlético — caso dos jogadores de futebol —, mas mesmo quem não está em plena forma pode usá-lo, afirma o consultor Taleb. “Se a roupa for confeccionada sob medida, o visual ficará mais esguio”, garante ele.

O COMEÇO – Gilmar, Pelé, Pepe e Orlando, em 1958: formalidade no esporte (Arquivo O Globo/.)

O terno era o traje social obrigatório da seleção nos anos de ouro: 1958, 1962, 1970, quando o futebol brasileiro colecionou vitórias e ganhou destaque internacional. Aí vieram os patrocinadores com seus logos onipresentes aplicados em agasalhos esportivos, e adeus, terno — o moletom dominou o meio de campo. Conquistou tamanha relevância no guarda-roupa dos jovens que, nos últimos anos, mudou de patamar. O agasalho que era só confortável virou moda irreverente e ganhou grife, sobretudo na figura dos rappers americanos.

A transição da seleção para o terno bem cortado reflete um certo amadurecimento da profissão de atleta. A seleção bem-vestida nasceu, é claro, nos dois principais centros de difusão da alta moda masculina: Itália e Inglaterra. Até agora, a Itália ganha de lavada. Os ternos das seleções recentes foram desenhados por Dolce & Gabbana, dupla que se encontra no olimpo das marcas refinadas. Já os costumes ingleses são criação da Marks & Spencer, marca de varejo muito menos charmosa. A Inglaterra, por outro lado, tem a seu favor no jogo da elegância o fato de ser o país de David Beckham, pioneiro do reposicionamento dos craques da bola — sujeitos sempre mal-ajambrados — em modelos de marcas caras e chiques. Agora é a vez de a seleção brasileira dar sua contribuição ao time dos boleiros bem-vestidos. A jogadores num terno bem cortado, de gravata e sapatos de couro, perdoam-se até mesmo os cabelos heterodoxos. Todos, menos o moicano.

Publicado em VEJA de 4 de abril de 2018, edição nº 2576

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