Catapultar mundialmente as vendas dos utilitários esportivos foi uma das estratégias bem-sucedidas de Sergio Marchionne, presidente da Fiat, morto aos 66 anos. Ele foi o responsável pelo renascimento de duas companhias automobilísticas que rumavam para a bancarrota: a italiana Fiat e a americana Chrysler. Nascido na Itália, emigrou para o Canadá com a família quando tinha 13 anos. Estudou comércio e direito. Passou por diversas empresas, até fazer fama pela recuperação da SGS, companhia suíça de serviços industriais. Em 2003, foi nomeado para o conselho da Fiat e, no ano seguinte, assumiu a presidência da empresa. A grande tacada veio em 2009. No auge da crise internacional, a Fiat adquiriu uma participação na quebrada Chrysler. Cinco anos depois, as companhias foram unidas no grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA), hoje o sétimo maior fabricante mundial e controlador de marcas icônicas como Maserati e Jeep (essa última é a dona do logo que o jogador Cristiano Ronaldo levará no peito quando entrar em campo com a camisa de seu novo time, a Juventus de Turim, propriedade da família Agnelli, controladora também do grupo FCA). Marchionne foi pioneiro ao antecipar a necessidade de reduzir a produção de sedãs e investir nos utilitários. Deu certo. Desde 2014, o valor de mercado da companhia foi multiplicado por três. Viciado em trabalho, o executivo dormia pouco. Nos rotineiros voos, jogava pôquer, bebia um expresso atrás do outro e fumava cigarros Muratti. Vestia-se sempre de maneira idêntica: jeans, camisa e uma malha preta. Recentemente, passou por uma cirurgia no ombro direito, em Zurique. Complicações decorrentes da operação, que não foram detalhadas, fizeram com que ficasse dias internado. Morreu na quarta-feira 25, deixando como legado uma das mais impressionantes histórias de virada empresarial dos tempos recentes.
Ela queria salvar vida
“Nascida no Brasil, renascida na Nicarágua” era a frase com que a pernambucana Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, se apresentava no Facebook. Na Manágua que a adotou e onde morava havia cinco anos, Raynéia morreu na segunda-feira 23, quando seu carro foi atingido por rajadas de metralhadora, perto das 23 horas. Entrou assim para o trágico rol de mais de 300 mortos pela dura repressão do governo do presidente Daniel Ortega, que tenta abafar a bala a onda de protestos que varre a capital e cercanias desde abril. Segundo amigos, Raynéia nunca se envolveu nas manifestações. Foi para Manágua em lua de mel porque era onde o sogro morava, e lá permaneceu diante da chance de estudar medicina. O casal se separou, ele voltou para o Brasil e ela ficou. Raynéia estava no último ano da faculdade e, ao que tudo indica, foi vítima de bala perdida em uma batida de paramilitares pró-governo no bairro em que morava, próximo à Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (Unan), ao término do plantão em um hospital. “Minha filha era pacata, estudava para salvar vidas. E agora tiraram a vida dela”, lamentou a mãe, Maria José da Costa, ao site de VEJA. Raynéia teve o fígado e o coração perfurados, foi operada e morreu de parada cardíaca. O governo brasileiro exigiu explicações e chamou de volta o embaixador em Manágua.
Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2018, edição nº 2593