Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Um Natal mais próspero

A redução do número de trabalhadores sem ocupação e o crescimento da produção industrial apontam para o melhor fim de ano desde 2014

Por Marcelo Sakate Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 nov 2017, 06h00 - Publicado em 3 nov 2017, 06h00

A economia brasileira engrenou a segunda marcha. A incerteza política não se dissipou, o que restringe o aumento dos investimentos, mas os números mais recentes mostram que duas das maiores vítimas da recessão ensaiam finalmente uma recuperação consistente, ainda que em ritmo lento e gradual. A indústria e o mercado de trabalho registraram recordes negativos sucessivos nos últimos anos, deixando patente a magnitude da crise que abateu a atividade no país, mas os dias mais sombrios ficaram definitivamente para trás. A inflação sob controle, o que facilita a recomposição do poder de compra da população, e a consequente redução do custo do dinheiro, acompanhando a queda da taxa básica de juros, compõem também esse cenário benigno que faz os analistas prever o melhor Natal em vendas desde 2014.

No último trimestre, 1,1 milhão de vagas de trabalho foram criadas. Dessa maneira, a taxa nacional de desemprego da chamada população economicamente ativa — as pessoas aptas a trabalhar e que procuram alguma ocupação — caiu de 13% para 12,4%. A indústria, por sua vez, cresceu 3,1% no mesmo trimestre, o ritmo mais forte em quatro anos. A expansão se deu de forma disseminada entre as principais categorias de produção, incluindo o estratégico setor de máquinas e equipamentos, o que se traduz em impulso para a retomada dos investimentos. Na taxa que soma o desempenho em doze meses, a produção industrial subiu 0,4% em setembro. É pouco, mas foi o primeiro resultado favorável nessa comparação depois de 39 meses de retração.

Os números positivos devem ser comemorados, embora haja um longo caminho a ser percorrido até que os efeitos negativos da crise prolongada sejam minimamente compensados. Quase 13 milhões de pessoas ainda estão desempregadas no país, o dobro do contingente existente no fim de 2014. Além disso, a recuperação do mercado de trabalho tem sido caracterizada pelo avanço do chamado emprego de menor qualidade: ocupações por conta própria ou aquelas em que a pessoa não tem a carteira de trabalho assinada. Análise semelhante se aplica à indústria. Apesar do crescimento nos nove primeiros meses do ano, o setor conseguiu apenas se aproximar do nível de produção equivalente ao que tinha dois anos atrás. Naquele momento, a economia já estava em retração e sofria os efeitos da crise.

(Arte/)

Tudo isso significa que o governo e a sociedade não podem descuidar de reforçar as bases para o crescimento sustentado. Para tanto, é importante que haja a retomada da agenda de votação de reformas como a da Previdência e a tributária no Congresso e que as urnas da eleição presidencial de 2018 não consagrem um aventureiro radical disposto a trocar a segurança das medidas de eficácia comprovada pelas piruetas experimentalistas na política econômica.

De qualquer maneira, os consumidores, que representam a grande força motriz da economia brasileira, já se revelam mais dispostos a abrir a carteira. Alguns setores respondem de forma mais rápida que outros e ajudam a compreender que uma mudança de humor está em curso. Um deles é o varejo. As grandes redes vêm, de maneira consistente, colecionando resultados positivos. Primeiro, imaginou-se que esses resultados fossem fruto dos 40 bilhões de reais despejados na economia pela liberação do FGTS. Vê-se agora que não era só isso. Outro “termômetro” é o setor automobilístico. A venda de veículos em outubro atingiu 196 000 unidades, uma alta de 27% em relação ao mesmo mês do ano passado. As montadoras perceberam a virada na confiança dos compradores e programaram uma série de lançamentos para o fim do ano e o início de 2018.

(Arte/)

Os economistas não têm mais dúvida de que o país entrou numa fase de retomada, mas deve-se levar em conta o tamanho do tombo sofrido nos anos anteriores. Ainda serão necessários vários meses de crescimento para recuperar o terreno perdido. A esse respeito, pesa também o cenário eleitoral. Isso porque, apesar da volta da confiança empresarial, muitos investimentos programados só ocorrerão de fato depois das eleições do próximo ano. É um cenário inverso ao que acontece hoje na Argentina, onde a certeza da continuidade das reformas, com o fortalecimento do presidente Mauricio Macri nas eleições legislativas, dá aos investidores a convicção de que elas serão mantidas e até aceleradas. “Entramos em uma fase de reformismo permanente”, repete o presidente argentino. Na semana passada, Macri anunciou um projeto de modernização tributária.

O caótico sistema de cobrança de impostos é justamente um dos pontos em que o Brasil vai pior nas comparações internacionais. Existe um projeto de reforma tributária em discussão no Congresso. O texto promete acabar com a guerra fiscal entre os estados e reduzir a burocracia. O governo, porém, prefere batalhar pela aprovação da reforma previdenciária antes de mexer nesse novo vespeiro de interesses.

Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2017, edição nº 2555

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.