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Tuíte incendiário

Mensagem do comandante do Exército na véspera do julgamento do HC de Lula alvoroça defensores da “volta do regime militar”

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h50 - Publicado em 7 abr 2018, 06h00
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A mensagem – Texto publicado pelo general no Twitter. Abaixo dele, posts de apoio vindos de militares em postos-chave (./VEJA)

Nos turbulentos dias que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, cansou-se de ouvir que as Forças Armadas deveriam se mexer para “pôr o país em ordem”. Como revelou em entrevista a VEJA, em abril de 2017, o comandante chegou a ser sondado por políticos de esquerda que defendiam a decretação do estado de defesa pela presidente — medida que obrigaria a Força a tomar as ruas. Villas Bôas rechaçou de imediato a hipótese, “descabida e perigosa”, segundo ele. Por mais de uma ocasião, o militar já havia afirmado que o Exército deve atuar nas crises como um “protagonista silencioso”, guiado unicamente pela Constituição, e tendo como base os pilares da “estabilidade, legalidade e legitimidade”.

Na terça-feira à tarde, no entanto, véspera do julgamento do habeas-corpus do ex-presidente Lula no Supremo Tribunal Federal (STF), o comandante pareceu trair a si próprio ao publicar no Twitter mensagem em que dizia repudiar “a impunidade” e em que assinalava estar o Exército brasileiro “atento às suas missões institucionais”. Como era de esperar, o texto teve repercussão imediata. Embora tenha agradado àquela parte da opinião pública que enxerga na Força o derradeiro porto seguro em meio ao maremoto da corrupção, teve também consequências ruinosas. Deu margem à compreensível interpretação de que seria um aviso aos ministros do Supremo de que o Exército estaria disposto a intervir caso a Corte concedesse o benefício a Lula. No julgamento do habeas-corpus do ex-presidente, o decano Celso de Mello, sem citar nominalmente o general, criticou com dureza a sua iniciativa e disse serem “inaceitáveis” o que chamou de “intervenções castrenses”.

O tuíte do comandante conseguiu alvoroçar os defensores da “volta do regime militar” dentro e fora dos quartéis — o general da reserva Paulo Chagas chegou a anunciar que estava pronto para a guerra (“Tenho a espada ao lado, a sela equipada, o cavalo trabalhado e aguardo as suas ordens!”, escreveu). Teve ainda o efeito de expor divergências entre as Forças. Em boletim interno distribuído na quarta-feira 4, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Nivaldo Luiz Rossato, defendeu a tese de que as Forças Armadas devem se manter fiéis à Constituição e de que seus integrantes não devem “se empolgar a ponto de colocar convicções pessoais acima daquelas das instituições”.

Pelo menos três generais que ocupam postos-chave nas Forças Armadas declararam apoio a Villas Bôas no Twitter: Geraldo Antonio Miotto, comandante militar do Sul; Edson Skora Rosty, chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia; e José Luiz Dias Freitas, comandante militar do Oeste. O presidente Michel Temer não comentou o episódio.

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A mensagem do general não foi escrita nem publicada num rompante — foi precedida de longas conversas, inclusive com não fardados. Além disso, seu conteúdo destoa flagrantemente do perfil de seu autor. Reconhecido pela ponderação e pelo espírito democrático, Villas Bôas já foi posto à prova e passou com louvor no teste do populismo militar — como quando, na época da crise do impeachment, mostrou que o silêncio pode ser a maior prova de uma convicção. Diante disso, a estridência de seu texto deixa uma interrogação no ar: estaria o Exército sereno, coeso e pacificado? Ou há nele alguma pulsão latente que precisa ser domada, ainda que à custa de um tuíte tresloucado?

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2018, edição nº 2577

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