“Sim, Somos favoritos”
Depois do sorteio dos grupos do Mundial da Rússia, Tite falou a VEJA sobre a expectativa para 2018 e sobre sua imagem de salvador da pátria de chuteiras
Qual a avaliação do senhor sobre o grupo do Brasil? O primeiro jogo é o que gera a maior expectativa. E, se usarmos o ranking da Fifa, o jogo mais difícil de toda a primeira fase será mesmo Brasil, o segundo no ranking, versus Suíça, o oitavo. Mais duro que Espanha e Portugal. Em alguns grupos, há favoritos claros para conquistar as duas vagas, como Inglaterra e Bélgica, no Grupo G. Não se pode dizer o mesmo de nós. A Costa Rica mostrou seu futebol em 2014 e chegou às quartas de final na última Copa. A Sérvia é da escola da antiga Iugoslávia. Seremos exigidos em um nível altíssimo.
O senhor se sente pressionado a ganhar a Copa? Não vou mentir. O treinador argentino José Pékerman (que comanda a Colômbia) me disse, quase pedindo desculpas, que havia citado o Brasil como o maior favorito ao título em 2018. Eu disse que não havia problema, porque é verdade: somos favoritos. Tenho de saber absorver essa pressão, e os atletas também.
Um mísero gol pode levá-lo de herói a vilão em minutos. Como lidar com isso? Quando um gol tem o poder de mudar sua imagem significa que quem mudou de opinião rapidamente é muito raso, pouco inteligente. Quem faz isso não avalia um processo, mas, sim, o resultado. Mais do que me incomodar com pessoas desse tipo, fico com pena delas.
Seu nome já apareceu em pesquisas como boa aposta para a Presidência da República. Teremos um Tite político? Nunca. Jamais deixarei o futebol. Não tenho essa pretensão. Como cidadão, espero que a política, que por vezes me envergonha, esteja um dia muito melhor do que está hoje. O país é muito maior que o futebol, que mexe com a emoção. A política mexe com o nosso futuro, o de nossos filhos.
Sabe-se que o senhor gosta de ler. O que tem lido? Acabei o livro do ex-técnico da seleção americana de basquete, Liderar com o Coração (de Mike Krzyzewski), presente do Sylvinho (refere-se ao auxiliar técnico da seleção). É fascinante, gosto de entrar na mente do gestor, daquele que trabalha em equipe. Quero saber como se tira o melhor das diferenças e das características de cada um sendo justo com todos.
Como o senhor faz para domar o ego de tantas estrelas? Não sou psicólogo, sou professor formado em educação física e técnico há bastante tempo. Mas posso dizer que entendo o lado do atleta, porque fui jogador e sempre gostei do respeito recebido do técnico. É isso que procuro fazer no meu trabalho. A diferença de nível existe apenas se medirmos os atletas pelo dinheiro que recebem. Mas eles são exatamente iguais, no lado humano, àqueles que treinei um dia no Guarany de Garibaldi.
Neymar, o mais caro, o grande nome, está pronto para ser o melhor do mundo? Ele não precisa ser campeão do mundo para mostrar que tem qualidade, que é um dos melhores do mundo. Na seleção temos um trabalho conjunto e não vou botar essa carga de responsabilidade sobre um único jogador. Cada um de nós tem de mostrar e ser o melhor possível. O Tite tem de ser o melhor possível, o massagista tem de ser o melhor possível, o Neymar, o melhor possível. Mas imputar a um jogador a responsabilidade do sucesso é desumano e injusto, e isso não vou fazer.
O 7 a 1 no jogo contra a Alemanha é um fantasma. O senhor conversa a respeito dessa derrota com os atletas? Não preciso, porque esse assunto foi explorado demais. A geração mais nova não tem a carga, e aqueles que vieram desse confronto aprenderam com a derrota, ganharam experiência.
Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2017, edição nº 2560