Quase um ano no espaço. O que foi mais empolgante nesse tempo? A caminhada espacial, sem dúvida. Basicamente, é quando saímos da estação espacial para fazer reparos ou explorar o exterior. É muito perigoso, porque há a possibilidade de muitas coisas darem errado, desde sermos atingidos por rochas espaciais até ocorrer alguma falha nos equipamentos.
Por que aceitou a missão, mesmo ciente desses perigos? Acredito no programa espacial. O perigo de estar constantemente exposto à radiação ou o risco de despressurização da nave ou incêndio dentro da estação existem. Houve um episódio em que perdemos o controle e quase fomos atingidos por lixo espacial. Mas sempre gostei de coisas arriscadas. Experiências como essa nos dão informações em longo prazo sobre a resistência humana à falta de gravidade no espaço — isso nos ajudará, eventualmente, a ir a Marte.
Como é ver a Terra de cima? Não existe nada igual. É lindo, mas também assustador. A atmosfera parece frágil, e você percebe que algumas partes do planeta estão cobertas pela poluição. Entre meu primeiro voo, em 1999, e meu último, em 2015, também notei que as florestas diminuíram.
O que mudou no seu corpo após a missão? Quando voltei para a gravidade, tive inchaço nas pernas, além de ficar muito cansado e enjoado em certos momentos. Parei na emergência de um hospital, com sintomas muito fortes de gripe. Levei seis meses para voltar ao normal.
O que o senhor fazia para passar o tempo no espaço? A Nasa mantinha minha agenda de afazeres bem apertada. No pouco tempo livre, costumava responder a e-mails e conversar com minha noiva e minhas filhas. Também tirava fotos da Terra para postá-las nas redes sociais e assistia à TV. Vi Game of Thrones quase inteiro no espaço.
Quais são as coisas mais difíceis de fazer sem gravidade? Não dá para colocar as coisas em cima de uma mesa ou no chão — tudo tem de estar preso, para não sair flutuando por aí. Mas há vantagens. É mais fácil mover objetos grandes e pesados.
O senhor acha que iremos a Marte nos próximos anos? É o próximo passo na exploração espacial. Isso depende de haver financiamento. É caro. Mas, definitivamente, acho que é possível.
Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2017, edição nº 2560