Último mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

“Rouba, mas fez”

Pesquisa mostra que eleitor médio de Lula já não acredita em sua honestidade, mas o apoia por estar convencido de que a vida melhorou com ele

Por Roberta V. Bordoni
Atualizado em 4 jun 2024, 17h51 - Publicado em 7 abr 2018, 06h00

O partido em frangalhos, quase meia dúzia de companheiros presos e uma condenação por corrupção passiva nas costas. Era de esperar que a esta altura a popularidade do ex-presidente Lula tivesse virado pó. Mas não foi o que ocorreu. Nas últimas pesquisas de intenção de voto para presidente, o petista mantinha o favoritismo. Segundo um levantamento do Datafolha divulgado em janeiro, Lula tinha o apoio de 34% dos brasileiros — e uma distância folgada do segundo colocado, Jair Bolsonaro, então com 15%.

Se muitos políticos roubam, por que estão querendo prender justo o que defendeu os pobres?

Homem, 29 anos, morador do Recife (PE)

O que explica a resiliência política de um condenado em duas instâncias, investigado em pelo menos oito inquéritos, réu em seis processos, à beira da prisão e da inelegibilidade eleitoral? Uma pesquisa do Ideia Big Data — feita ao longo do mês de março com 580 pessoas em 27 estados brasileiros — ajuda a entender o fenômeno. O trabalho usou o método da “antropologia digital”, em que os indivíduos pesquisados interagem em tempo integral com os pesquisadores por meio de vídeos e questionários on-line enviados a um aplicativo instalado no telefone celular. Além de respostas a perguntas objetivas, o sistema permite a captação de pontos de vista e percepções mais sutis no grupo pesquisado. No levantamento do Ideia, realizado com exclusividade para VEJA, esse grupo era composto de eleitores “típicos” de Lula — concentrados nas classes C, D e E e moradores de bairros populares.

O estudo concluiu, por exemplo, que a imagem do “presidente que não sabia de nada” deu lugar a outra, a do político que “rouba, mas fez algo por mim”. “Durante muito tempo, esse eleitor acreditava fortemente que o ex-presidente desconhecia casos de corrupção como o mensalão”, diz o economista Maurício Moura, fundador do Ideia e pesquisador da Universidade George Washington. “Agora, ele continua fiel a Lula, mas já expressa o sentimento de que o petista não é ‘nenhum santo’.”

Continua após a publicidade

Lula, na visão dos pesquisados, pode ter roubado (“como todos os políticos roubam”), mas ao menos melhorou a vida dos brasileiros mais pobres — motivo pelo qual estaria sendo agora “perseguido”. Nesse sentido, a aposta em seu nome como candidato à Presidência seria bem menos ideológica que prática.

O que eu tenho aqui na minha casa — armário, cozinha, azulejo na parede — foi comprado na época em que o Lula estava no poder.

Homem, classe C, 30 anos, morador de Cabo de Santo Agostinho (PE)

O petista é admirado sobretudo por mulheres adultas (grande parte delas mães que, na condição de principais provedoras da casa, afirmam ter tido no seu governo uma melhora real de vida — a delas próprias ou de seus familiares) e por jovens que conseguiram fazer curso superior na época em que Lula estava no poder. Mesmo pesquisados do Sudeste que relatam não ter sido beneficiados durante o governo do petista fazem menção a familiares no Norte-­Nordeste que o foram.

Continua após a publicidade

“É esse patrimônio de gratidão que ajuda a manter o ex-­presidente à frente nas pesquisas de intenção de voto”, afirma Moura. Esse “patrimônio”, indica o levantamento, aumenta à mesma medida que diminui a renda do eleitor — ou seja, quanto mais pobre ele é, maiores são o respeito e a admiração que nutre pelo petista.

Lula também é visto por apoiadores como “diferente” do político que age movido por interesses próprios, que “aparece na eleição e depois some”. Seu eleitorado fiel o enxerga como alguém que “olhou para os pobres”. Trata-­se de uma percepção em grande parte nutrida pela sua extraordinária biografia — se ela será irremediavelmente maculada pela prisão do petista, a próxima pesquisa dirá.

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2018, edição nº 2577

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.