Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Por que não temos mais Embraers

As indústrias se fecham em vez de disputar mercados globais

Por Sérgio Lazzarini
Atualizado em 4 jun 2024, 16h32 - Publicado em 13 jul 2018, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Muita gente lamentou a proposta de venda do negócio de jatos comerciais da Embraer à Boeing. Em certo sentido, tratava-se de movimento inevitável, uma vez que suas grandes rivais, Bombardier e Airbus, já fecharam uma associação no ano passado. Mas o principal problema não é perder a Embraer; é saber que não temos quase nenhuma outra empresa para entrar no seu lugar. Por que não há outros craques brasileiros na fronteira tecnológica, disputando mercados globais?

    Uma reclamação comum é que falta mais esforço do governo para fortalecer empresas nacionais. Mesmo depois de ter sido privatizada, a Embraer se beneficiou de programas de apoio à exportação. Essencialmente, uma empresa americana comprava jatos Embraer com linhas de crédito do BNDES. Criou-se até um mecanismo pelo qual o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que financia o banco, receberia uma remuneração alinhada a taxas de juros internacionais, muito inferiores às praticadas no Brasil. Mas esse mesmo programa, que já era custoso, serviu para abastecer outras expansões menos nobres. Construtoras usaram o crédito do BNDES para participar de polêmicos projetos em países da África e da América Latina. Acusações de desvios de uma dessas construtoras levaram até à renúncia do presidente do Peru no início do ano. Com incentivo público, exportamos corrupção. Mais ainda, muitas políticas governamentais tiveram o efeito oposto de fazer com que as empresas se voltassem para o mercado doméstico. No caso da Embraer, de forma distinta, fonte essencial do seu sucesso deve-se à sua inserção em redes globais de produção e vendas. A maior parte dos componentes dos seus aviões vem de supridores externos. O desenvolvimento é feito por meio de parcerias de risco com fornecedores globais — totalmente em oposição às malfadadas políticas de conteúdo local, que obrigam as empresas a comprar de produtores com maior preço e menor qualidade. Vários setores no Brasil são demasiadamente fechados e assim querem ficar: só fazem pedir isenção tributária, crédito subsidiado e proteção.

    A Embraer cresceu em sintonia com mercados globais. Na essência, fez produtos para aviação regional, praticamente inexistente no Brasil, antecipando mudanças importantes nesse campo. No fim dos anos 1990, o segmento de jatos de setenta a 120 lugares, que consolidou o sucesso recente da Embraer, não era visto como promissor. A empresa se aproveitou da flexibilização de regras nos Estados Unidos que limitavam a entrada de companhias aéreas nesse segmento, e passou a desenvolver um produto inovador e de alta qualidade, a família dos “E-Jets”. Infelizmente, esse é um evento raro. Quantos empresários no Brasil pensam e agem dessa forma, preparando-se para vencer partidas acirradas pelo mundo? Aqui, os cartolas setoriais e seus agentes políticos se preocupam mais em jogar no campeonato local, e, ainda assim, dar um jeitinho de influenciar as regras do jogo a seu favor.

    Publicado em VEJA de 18 de julho de 2018, edição nº 2591

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.