Foi um diálogo de 5ª série. Em mensagem de Ano-Novo, divulgada pela TV estatal na segunda-feira 1º, o ditador norte-coreano Kim Jong-un afirmou: “Não é uma simples ameaça. Eu realmente tenho um botão nuclear na minha mesa. Todo o território continental dos Estados Unidos está ao alcance de um ataque nuclear”. O presidente Donald Trump respondeu no dia seguinte via Twitter: “Eu também tenho um botão nuclear, e o meu é muito maior e mais poderoso do que o dele, e o meu botão funciona!”. Tecnicamente, nenhum dos dois tem botão algum na mesa do escritório, e sim um complexo sistema para autorizar o lançamento de bombas atômicas — que, no caso de Trump, cabe em uma maleta que o acompanha a toda parte.
O fato é que, apesar da discussão infantil do tipo “o meu é maior do que o seu” com algo tão sério como uma guerra nuclear, o pronunciamento de Kim também teve efeitos positivos. Isso porque, em meio às ameaças de sempre, o ditador propôs reabrir as conversas diplomáticas com a Coreia do Sul e aventou a possibilidade de enviar atletas norte-coreanos para a Olimpíada de Inverno, que acontece no mês que vem, na cidade sul-coreana de Pyeongchang. Na quarta-feira 3, a linha direta de comunicação entre os governos do Norte e do Sul foi restabelecida. O equipamento para contatos emergenciais, instalado nos dois lados da zona desmilitarizada entre as duas Coreias, estava inativo havia dois anos por iniciativa do Norte. Em uma ocasião, funcionários sul-coreanos precisaram usar um megafone para avisar a oficiais do outro lado da fronteira que estavam enviando de volta pescadores norte-coreanos resgatados em águas sulistas. A volta do diálogo, ainda que frágil, também pode provocar o isolamento de Trump. Seja como for, é melhor que a birra sobre o tamanho dos botões nucleares.
Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2018, edição nº 2564