As primeiras fórmulas estéticas contra as marcas do tempo nasceram já na Antiguidade. Em V a.C., o grego Hipócrates recomendava a higiene corporal como combate ao envelhecimento. Cleópatra, a rainha do Egito, tomava banho de leite de cabra para manter a pele alva e lisinha. No início do século XX, a polonesa Helena Rubinstein (1872-1965) revolucionou esse capítulo da história privada ao criar o conceito moderno de beleza com o primeiro creme antirrugas baseado em princípios químicos.
A ciência dos cosméticos passa agora por nova transformação, com uma série de produtos antirrugas elaborados para a pele jovem, de até 35 anos, um pouco menos, um pouco mais, quando a maioria dos sinais ainda é imperceptível.
A mais recente novidade recebeu o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em outubro e chegará ao mercado no início de 2018. Desenvolvida pelo laboratório irlandês Allergan com o nome comercial Volite, a substância retarda a perda do ácido hialurônico, composto da pele responsável pela elasticidade, que diminui com o passar dos anos. Explica o dermatologista Jardis Volpe: “O produto repõe o ácido perdido em quantidades mínimas, diluindo-se entre as células cutâneas — e não se agrupando, como ocorre com as versões sintéticas dos ácidos convencionais”. O efeito fica longe do que mostra boca e bochechas inchadas e enormes. O tratamento é feito por meio de microinjeções finíssimas, com a espessura de um fio de cabelo, e o resultado começa a aparecer cerca de um mês após a aplicação. Nove meses depois o produto tem de ser reaplicado. Não há milagre.
As rugas são cicatrizes deixadas por fraturas na derme, a camada intermediária da pele. Com vincos que variam de 0,1 milímetro a 0,5 milímetro de profundidade, elas são causadas por fatores externos, como a exposição solar e a poluição. Mas a ruína natural do tecido é implacável. Até os 25 anos de idade, o corpo se encarrega de produzir as substâncias que lhe garantem juventude. Ao redor dos 30 anos, formam-se as primeiras rugas. Dos 40 aos 60 anos, os vincos já estão marcados e as substâncias que mantêm a pele firme se enfraquecem com maior velocidade. São necessários estímulos cada vez mais vigorosos e agressivos para que elas continuem a ser produzidas. A cada década, depois dos 30 anos, vão-se 10% do colágeno, as fibras da pele. O ácido hialurônico sofre uma redução de 20% a 30% ao longo da vida.
O Volite chegou na esteira de produtos antienvelhecimento para a pele jovem lançados nos últimos cinco anos. Um dos mais celebrados é uma toxina botulínica mais light, como se fosse um Botox levinho. Criada pelo laboratório alemão Merz com o nome de Xeomin, a substância pode ser usada precocemente, muitas vezes sem que seja necessário aumentar a quantidade aplicada, como ocorre com o Botox convencional. Evita-se, desse modo, a artificialidade. O pulo do gato desse produto é a inexistência de proteínas em sua composição que fariam com que ele fosse ineficaz. Há ainda uma versão inédita de laser, técnica usada para estimular a produção de colágeno, com picadas rapidíssimas, menos agressivas. Elas agem sem queimar a camada mais superficial da pele, a epiderme, o que possibilita um número maior de aplicações.
Toda essa onda foi batizada, recentemente, de prejuvenation, em inglês (algo do tipo “prejuvenescimento” em português). Trata-se de uma geração de mulheres, em sua maioria, que, ainda sem marcas, decide expor a pele a tratamentos não invasivos. No Brasil, nos últimos dois anos, a procura por procedimentos estéticos não cirúrgicos, como lasers e a aplicação da toxina botulínica, aumentou 390%, e os principais consumidores foram as mulheres com menos de 40 anos. As redes sociais e o excesso de selfies contribuíram para a mudança de comportamento. De acordo com um relatório do Conselho Nuffield de Bioética, organização britânica que analisa questões éticas de biologia e medicina, a pressão sobre a aparência gerada pelas mídias sociais tem levado pessoas cada vez mais jovens a buscar procedimentos cosméticos. A blogueira Carol Magalhães, 38 anos, é um exemplo de como a prevenção precoce é a maior aliada do espelho: “Só uso produtos antienvelhecimento para a minha idade; vou atrás deles. Sei que com isso chegarei aos 50 anos com uma pele boa e jovem, algo diferente da referência que tenho de mulheres nessa faixa etária quando eu tinha 20 anos”. É um bom sonho de juventude.
Publicado em VEJA de 15 de novembro de 2017, edição nº 2556