“O PSDB errou.” “Aceitamos como natural o fisiologismo.” “Erramos ao ceder ao jogo da velha política.” Com frases assim, o PSDB levou ao ar na noite de quinta-feira um programa inédito na política brasileira. Idealizado pelo senador Tasso Jereissati — que ocupa o lugar de Aécio Neves na presidência desde que o mineiro foi flagrado achacando o empresário Joesley Batista —, o mea-culpa tucano surpreendeu. E não só pela contundência, mas por ter sido a primeira iniciativa do gênero num país em que o que não faltou na história recente foi demanda por autocrítica partidária. O PT passou ao largo dela no mensalão, no petrolão e até depois que o governo Dilma atirou o Brasil na maior recessão já vista. Da ex-presidente, o máximo que se ouviu foi um vago “posso ter errado”. Já cardeais do PMDB de Michel Temer, sempre que podem, usam inserções na TV para dizer que todos erraram — petistas, procuradores, delatores —, menos eles.
Muitos tucanos detestaram o vídeo e reclamaram que Jereissati não consultou o partido antes de dizer que todos erraram. De fato, o senador limitou-se a ouvir tucanos graúdos antes de apertar o play. Fernando Henrique Cardoso sugeriu mudanças aqui e ali. Aécio Neves viu e não gostou, pois vestiu a carapuça. Mas veio de três ministros tucanos de Temer — Aloysio Nunes, Antonio Imbassahy e Bruno Araújo — a crítica mais pesada contra o senador. O chanceler disse que o vídeo era um “tiro no pé”. O secretário de Governo afirmou que ele “ofende fortemente o partido”, e o ministro das Cidades considerou-o “injusto” com a história da sigla. Jereissati tem levado os disparos sozinho, mas diz a aliados que não vai recuar. O ninho tucano está balançando, mas o senador acha que não será a verdade que o fará ir ao chão. Infelizmente, para o PSDB, muitos outros ventos o ameaçam. Mas, até aqui, fica pelo menos um exemplo a ser imitado: a autocrítica faz bem.
Publicado em VEJA de 23 de agosto de 2017, edição nº 2544