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O que fica do modelo

O próximo presidente da economia que já serviu de inspiração para os vizinhos sul-americanos terá de lidar com a controvertida herança deixada por Bachelet

Por Angela Nunes, de Santiago
Atualizado em 15 dez 2017, 06h00 - Publicado em 15 dez 2017, 06h00

O Chile foi a estrela da América Latina nas últimas duas décadas. O país assinou tratados de livre-comércio, entre os quais a Aliança do Pacífico, passou a negociar frutas no mundo todo em condições vantajosas e se tornou o maior exportador de vinhos para o Brasil. Duas de suas universidades estão entre as quatro melhores da América Latina. Com uma economia menor que a do Estado de São Paulo, o país ostenta um PIB per capita que supera o do Distrito Federal, a unidade federativa mais abastada do Brasil. Os dados macroeconômicos chilenos são bons. A taxa de desemprego está em 7% (a brasileira é de mais de 12%). A inflação é baixa, de apenas 3% ao ano, e o PIB cresceu em média 3,5% anualmente desde 2010. A previsão de crescimento para este ano é de 1,3% (a do Brasil é de 0,7%).

A situação, porém, já foi bem melhor. Na década de 90, a economia cresceu em média 6% ao ano, embora o país continue muito dependente do cobre, minério do qual é o maior exportador mundial. Quando o preço internacional do cobre cai, o governo tem menos dinheiro para executar o Orçamento. Quando o valor sobe, sobra verba para os gastos públicos, incluindo os programas sociais. “O Chile tem dificuldade de atrair indústrias por ser menor que vizinhos como o Brasil e a Argentina. Para grandes empresas pode não fazer sentido instalar suas fábricas em um país com um mercado pequeno e a mão de obra mais cara da região”, diz a economista Patrícia Krause, da consultoria de risco Coface, em São Paulo.

O governante do Chile nos próximos quatro anos será definido no domingo 17, em uma disputa entre o ex-­presidente Sebastián Piñera e o senador socialista Alejandro Guillier. Nas últimas pesquisas de opinião, Piñera aparecia com apenas 2 pontos porcentuais à frente do adversário, que recebeu o apoio de Michelle Bachelet, a presidente socialista que está de saída. Seja qual for o resultado, o próximo mandatário terá a seu favor a expectativa de que o preço do cobre volte a subir, uma vantagem da qual Bachelet não pôde desfrutar em seu segundo mandato, iniciado em 2014.

Menos contratações – Christian Valdivieso, de 42 anos, vive em Santiago com a esposa, Sujey, e a filha de 6 anos. Ele trabalha em um site que ajuda as pessoas a sublocar suas casas e apartamentos. O negócio prosperou devido à desaceleração econômica nos últimos anos. “As reformas tributária e trabalhista de Bachelet levaram muitas empresas a congelar as contratações, e todos tiveram de arrumar uma renda extra”, diz Valdivieso, que viveu no Brasil entre 1981 e 1992. Mas ele não pensa em mudar-se do país novamente. “Aqui temos qualidade de vida. Com qualquer emprego é possível viver de maneira digna.” (Pablo Sanhueza Gutierrez/Archivo Latino/)

Bachelet deixa para o sucessor uma herança controvertida, construída com decisões e reformas equivocadas. Para cumprir a promessa de oferecer vagas gratuitas no ensino superior a 60% dos estudantes mais pobres, Bachelet aumentou os impostos para as empresas. (A tributação era mais baixa para as que optassem por reinvestir o lucro no país.) Além disso, ela fez uma reforma trabalhista que fortaleceu os sindicatos — na contramão do que tem ocorrido na maioria dos países, inclusive o Brasil. Só 30% dos chilenos aprovam a reforma tributária e 37% aplaudem a trabalhista, segundo uma pesquisa do instituto Cadem. “As reformas tributária e trabalhista desestimularam o investimento”, diz o presidente da Sociedade Nacional de Mineração do Chile, Diego Hernández. E completa: “Foram medidas paternalistas, que não favorecem a criação de emprego”. Aparentemente, o sonho do Chile de se tornar o primeiro país desenvolvido da América Latina parece estar um pouco mais distante.

 

Publicado em VEJA de 20 de dezembro de 2017, edição nº 2561

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