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O que ele tem na cabeça?

Resposta: imaginação e ousadia, mesmo sob o risco de virar piada. O cabelo miojo de Neymar se tornou um grande assunto da Copa

Por Luisa Bustamante Atualizado em 30 jul 2020, 20h17 - Publicado em 22 jun 2018, 06h00
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Corria o jogo de estreia do Brasil na Copa do Mundo, no domingo 17, e o assunto nas redes sociais era o cabelo de Neymar. Seu penteado — raspado nas laterais, com um V desenhado atrás e um enorme e desgrenhado topete loiro duro de laquê, como diria a mais antiga das babushkas — foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter no mundo, alvo de cinco postagens por segundo nos pouco mais de noventa minutos em que a seleção esteve em campo. Seja pela repercussão negativa do look, seja pelo empate desanimador da seleção, o fato é que um dia depois, em foto no Instagram da mãe, Nadine, o topete loiro continuava lá, só que domado por um corte rente ao couro cabeludo.

Indagado sobre a momentosa questão, Wagner Tenorio, brasileiro radicado em Barcelona responsável pela obra e com quem o craque tem contrato, preferiu sair pela tangente. “Atendo Neymar há anos e fico muito feliz com a repercussão que o cabelo gerou. Mas acredito que esta é a hora de ele brilhar e nos dedicarmos apenas a torcer por isso”, disse a VEJA Tenorio, um dos dois cabeleireiros a serviço do craque na Rússia. O outro, Dailson dos Reis, o Nariko, vive em São Vicente, na Baixada Santista, lá onde Neymar começou, e já atendeu inclusive alguns colegas de seu cliente na concentração em Sochi.

Uma análise das consultorias Levius e PSBI, especializadas em acompanhar o que os internautas publicam no Twitter, mostrou que, durante o jogo, foram 640 000 os comentários sobre Neymar, dos quais 36 000 falavam exclusivamente do novo corte — e 3 500 o comparavam ao popular macarrão instantâneo Miojo. Na linha da semelhança pastifícia, Eric Cantona, ex-jogador francês dado a gracejos, cobriu a própria cabeça de pasta, segurou uma foto do atacante brasileiro e lascou na legenda: “Estilo Neymar… espaguete al dente”. No Brasil, a hashtag #raspaNeymar mobilizou multidões. Os fãs do atacante tentaram emplacar um contra-ataque com a campanha #naoraspaNeymar, mas não colou. Além do macarrão, o topete alimentou comparações com o Canarinho Pistola, versão mal-encarada da mascote da seleção, com a cantora Mart’nália e com a finada atriz Dercy Gonçalves, morta aos 101 anos.
Quem acompanha a trajetória de Neymar — alguém não acompanha? — lembra que ele começou já causando rebuliço com o penteado, um tenebroso moicano imitado por garotos do país inteiro, para desespero dos pais. “Cabelo diferente é a marca registrada do Neymar. Ele não liga de raspar e começar do zero. Gosta de experimentar novidade e inventar moda. Não quer ser tendência, só se divertir”, diz o cabeleireiro Tiago Parente, que cuidou do look do craque em 2014. Recordando: ele já apareceu de cabelo alisado nas versões com franja e sem franja, de aplique de tranças nas cores castanho, loiríssimo e ruivo e, pasmem, até com os fios naturais.

Nova versão - Topete domado: o jogador tem dois cabeleireiros à disposição (Pedro Martins/Mowa Press)

Invencionices capilares não são exclusividade do brasileiro, muito pelo contrário. Na Copa da Rússia, chamam atenção, entre outras pelagens bizarras, o moicano ruivo do goleiro sul-coreano Cho Hyun-woo, a coroa de trancinhas do belga Michy Batshuayi e a barba tipo lenhador do australiano Mile Jedinak. Corte de cabelo, roupas chamativas e tatuagens são os traços mais vistosos dos craques do futebol que são vaidosos e não escondem isso — todos herdeiros do inglês David Beckham, o primeiro do time a dar um pontapé no machismo predominante e sobressair nos três quesitos.

Embora pintar o cabelo e fazer as sobrancelhas sejam avanços da era pós-­Beckham, o visual dos jogadores sempre foi motivo de discussões, pela influência e pelo impacto que exercem dentro e fora do campo. João Saldanha, jornalista que se tornou técnico da seleção brasileira, era radicalmente contra cabeleiras, que, segundo ele, “amaciavam a bola” na hora do cabeceio. Ele bradava: “No meu time não joga cabeludo”. Na Copa da Alemanha, em 1974, os craques Jairzinho e Paulo Cézar Caju entraram em campo com o black power dos Panteras Negras americanos, na época um ato de desafio. No pentacampeonato mundial, em 2002, Ronaldo ostentou na cabeça raspada um tétrico topetinho frontal à la Cascão, felizmente deletado e nunca replicado. Tendo esta Copa do Mundo mal começado, muita bola ainda vai rolar e muita tesoura ainda pode picotar a cabeleira de Neymar. Twitter, a postos!

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588

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