O funk carioca é a “música eletrônica brasileira”. A definição era de quem conheceu bem o gênero e foi um de seus desbravadores: o carioca Wagner Domingues Costa, o Mr. Catra. Formado em direito, ele não chegou a exercer a advocacia. Começou a carreira musical como guitarrista da banda de rock O Beco. Também cantou samba, sertanejo, MPB. Nos anos 90, bandeou-se para o hip-hop e, em seguida, abraçou o funk. Tornou-se um astro dos “proibidões”, bailes em que a música fala de sexo (seu tema de predileção) e bandidagem (no ano passado, ele até teve de prestar depoimento em uma delegacia por suspeita de apologia do crime).
Mr. Catra contribuiu para a popularização do funk. Celebrou o hedonismo à moda pancadão em hits como Adultério, Uh Papai Chegou e Mama — este em dueto com Valesca Popozuda. O cantor de funks licenciosos era um homem de família — aliás, de famílias: polígamo assumido, teve três mulheres e 32 filhos. No ano passado, foi diagnosticado com câncer gástrico. Cortou cigarro e álcool para fazer o tratamento, mas era tarde demais. Morreu em consequência da doença, aos 49 anos, no domingo 9, em São Paulo, e foi sepultado no Rio, na terça-feira 11, ao som de seus sucessos e com a presença de estrelas do funk como DJ Marlboro, Buchecha e Jojo Todynho.
UM PENSADOR BRASILEIRO
Braço do Ministério da Educação e Cultura, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), criado em 1955, foi uma ilha de inteligência em torno dos problemas do país nos anos que antecederam o golpe militar. Um de seus nomes mais influentes foi o sociólogo Hélio Jaguaribe. Partiu dele a construção de uma ideia, a do pensamento desenvolvimentista. Disse Jaguaribe: “O desenvolvimentismo significa o esforço de aumentar a capacidade produtiva e, por outro lado, distribuir mais equitativamente o resultado dela”. Intelectual respeitado, participou da fundação do PSDB, partido do qual se desligou ao aceitar o cargo de secretário da Ciência e Tecnologia do governo de Fernando Collor. Quando o impeachment foi aprovado na Câmara, em 1992, Jaguaribe deixou o posto. Morreu de falência de múltiplos órgãos, aos 95 anos.
UMA ARTE PELA PAZ
Não importa onde estivesse, em Israel ou no Brasil, países nos quais passou seus 85 anos de vida, o artista plástico Gershon Knispel, nascido na Alemanha, fazia de seus desenhos, pinturas, gravuras e esculturas um manifesto contra as injustiças do mundo — com traços que bebiam do realismo socialista e do expressionismo. Em Haifa, suas obras ganharam respeito e visibilidade, mas nunca a unanimidade, como um marco a favor de dois Estados para dois povos, o israelense e o palestino. No Brasil — aonde chegou em 1958, ao vencer o concurso para a construção de um painel no prédio da extinta TV Tupi de São Paulo — fez amizade com Oscar Niemeyer e com artistas que, depois do golpe de 1964, gritariam contra a ditadura. Exilado, voltou a viver em Israel. Retornaria ao Brasil após a redemocratização. Morreu em 7 de setembro, em Haifa, depois de um infarto que culminou em falência de múltiplos órgãos.
Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2018, edição nº 2600