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O orgulho transgênero

Não se pode mais fingir que os transgêneros não existem, sob o pretexto de não combinarem com o padrão tradicional

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h55 - Publicado em 22 dez 2017, 06h00
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  • O Brasil, que invariavelmente se vê na televisão, faz das novelas da Globo um termômetro dos humores nacionais. Quando um assunto vira tema de folhetim, é sinal de que está maduro, e é inescapável discuti-lo. Em 2017, um dos personagens da novela A Força do Querer, escrita por Gloria Perez, ganhou notoriedade: Ivana, depois Ivan, o transgênero interpretado com delicadeza e firmeza pela atriz Carol Duarte. Suas cenas bateram 40 pontos no Ibope, o equivalente a 27,5 milhões de pessoas. A audiência disparou no dia em que ela anunciou aos pais sua decisão de assumir o novo gênero e quando Ivan fez a barba pela primeira vez, depois de tomar hormônios. O mérito do sucesso foi tirar da sombra um assunto tão carregado de estranhamento e preconceito.

    Não se pode mais fingir que os transgêneros não existem, sob o pretexto de não combinarem com o padrão tradicional. Trata-se do desconforto, do descompasso, permanente e completo, entre o sexo biológico e a identidade de gênero. Os transgêneros fazem parte do cotidiano brasileiro — 0,5% da população. No Brasil, isso corresponde a cerca de 1 milhão de pessoas. No mundo, são 35 milhões. Apesar desses números, até o início dos anos 2000 a transgeneridade era entendida como doença. Apenas em 2013 a Sociedade Americana de Psiquiatria passou a considerá-la uma condição, e não mais uma patologia. A caminhada ainda é longa, e os desafios para 2018 são evidentes, sobretudo no Brasil, onde, repentinamente, voltaram a ser debatidas até terapias de cura da homossexualidade, uma abordagem sem nenhum respaldo científico.

    Em 14 de dezembro, analistas do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos receberam a orientação de oficiais do governo do presidente Donald Trump de não usar em relatórios de orçamentos a palavra “transgênero”, assim como “diversidade” e “vulnerável” — como se o silêncio cancelasse uma realidade. Um pouco antes, em julho, Trump tentou derrubar a autorização para a entrada de transgêneros nas Forças Armadas. O Departamento de Defesa reagiu e, na contramão da Casa Branca, anunciou o recrutamento de transgêneros para o Exército, a Marinha e a Aeronáutica do país.

    Publicado em VEJA de 27 de dezembro de 2017, edição nº 2562

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