Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O novo “primeiro comando da capital”

A polícia descobre que ex-senador comanda a ala da penitenciária da Papuda onde estão presos os ex-ministros José Dirceu e Geddel Vieira Lima

Por Marcelo Rocha Atualizado em 27 jun 2018, 12h00 - Publicado em 22 jun 2018, 06h00

Em alguns Estados, é o crime organizado que dá as cartas nas prisões. Bandidos decidem quem entra, quem sai, quem vive e até quem morre. Na penitenciária da Papuda, em Brasília, onde cumprem pena políticos e ex-políticos envolvidos em corrupção, desconfiava-se havia tempo de que algo similar estava ocorrendo. No domingo 17, policiais civis do Distrito Federal, autorizados pela Justiça, vasculharam as celas ocupadas pelo ex-senador Luiz Estevão e pelos ex-ministros José Dirceu e Geddel Vieira Lima. Os agentes buscavam provas para confirmar as suspeitas de que Luiz Estevão, preso desde março de 2016, atua como chefe do presídio, distribuindo regalias a figurões encarcerados. Os achados comprovaram essas suspeitas. Em um caderno de José Dirceu, encontrou-se uma anotação que indicava que era preciso pedir a Estevão para agendar uma visita fora do horário regular. Para os investigadores, a informação é mais uma evidência de que o ex-senador agia como se fosse o “dono do presídio”.

A polícia também apreendeu manuscritos na cela do ex-ministro Geddel Vieira Lima, além de cinco pen drives que o ex-senador tentou jogar na privada. Os investigadores recuperaram o material, mas seu conteúdo continua sob sigilo. As regalias também ficaram demonstradas. Estevão dividia com Dirceu a maior e mais confortável cela da “ala das autoridades”, enquanto as demais, inclusive a de Geddel, estavam lotadas, com até treze detentos em cada uma. “A biblioteca mais parecia um escritório do ex-senador do que um espaço de uso comum dos outros presos”, diz o delegado Thiago Boeing, um dos encarregados do caso. O senador tinha uma pilha de documentos no seu “escritório”, numa evidência de que continua controlando seus negócios privados de dentro da prisão. Após a operação, o governo do Distrito Federal afastou os diretores da penitenciária.

REGALIAS – Dirceu: ele divide a cela com Estevão (Fátima Meira/Futura Press/Folhapress)

Não é a primeira vez que Estevão e Dirceu são apanhados em tramoias dentro da Papuda. O ex-senador, condenado a 31 anos de prisão por corrupção, financiou do próprio bolso a reforma da ala onde cumpre pena. Sua cela tem chuveiro elétrico, banheiro com privada, piso de granito, paredes pintadas, iluminação diferenciada e televisão. Já Dirceu, quando cumpria pena no processo do mensalão, tinha tratamento vip autorizado pela própria direção do presídio, à época sob o comando do governo do petista Agnelo Queiroz. O ex-ministro passava a maior parte do tempo na biblioteca, recebia visitas fora do horário e seus familiares não se submetiam à revista íntima.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588

Continua após a publicidade

Após a publicação da matéria, a defesa de Luiz Estevão enviou nota à revista:

“Em relação à Operação Bastilha, realizada pela Polícia Civil do Distrito Federal, em 17 de junho, esclareço, em nome de meu cliente Luiz Estevão, os seguintes pontos:
1) Como já informado anteriormente, os documentos encontrados na biblioteca e que se referem a Luiz Estevão ingressaram na unidade prisional de maneira formal e após a prévia inspeção pelas autoridades competentes.
2) Conforme decidido pela Vara de Execuções Penais (VEP), sem recurso do Ministério Público, o preso tem direito ao recebimento e à guarda dos próprios papéis.
3) Todos os documentos se referem a processos judiciais de Luiz Estevão.
4) A anotação de José Dirceu mencionada na reportagem diz respeito, apenas e tão somente, a uma solicitação que ele queria reiterar a Luiz Estevão para que lhe fosse fornecido um modelo de requerimento já protocolado para a visita de seus netos.
5) José Dirceu pretendia se utilizar de argumentos semelhantes para requerer a visitas de sua filha menor de idade (7 anos).
6) Tal possibilidade está prevista na Lei de Execuções Penais, em especial em razão da ala da unidade prisional abrigar dezenas de internos condenados por crimes sexuais contra menores.
7) Não houve e não se cogitou de qualquer privilégio.
8) De igual forma, Luiz Estevão vem mantendo comportamento exemplar no cumprimento de sua pena, o que já ficou demonstrado em situações anteriores.

Marcelo Bessa
Advogado de Luiz Estevão”

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.