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O esquema do PSB

Empresário revela que o avião que matou o ex-governador Eduardo Campos tinha um amigo do presidenciável como proprietário oculto

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 jul 2017, 06h00 - Publicado em 22 jul 2017, 06h00

Em meados de 2014, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, começava a ganhar espaço na disputa eleitoral à medida que se desgarrava do PT e se apresentava como alternativa numa disputa polarizada entre tucanos e petistas. A “terceira via” chamava a atenção dos brasileiros, sobretudo porque o PSB passava ao largo do escândalo de corrupção da Petrobras. Mas a rota de Campos e de seu partido mudou radicalmente em agosto daquele ano, quando o jatinho Cessna Citation 560XL que transportava o candidato a presidente caiu em Santos, no litoral paulista. A tragédia ceifou a vida do ex-governador. Pouco tempo depois, veio à tona uma pergunta que começou a tisnar a imagem de Campos e do partido: de quem era, afinal, o avião usado pelo candidato a presidente? Após quase três anos de investigação da Polícia Federal, um delator resolveu pôr um ponto-final no mistério: o proprietário oculto era Aldo Guedes Álvaro, amigo, braço-direito e ex-assessor de Eduardo Campos.

Homem da mais absoluta confiança do ex-governador, Aldo Guedes era sócio de Eduardo Campos numa fazenda e numa empresa agropecuária localizadas em Brejão, no interior de Pernambuco. Em 2004, quando Campos assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia durante o primeiro governo Lula, Guedes ocupou um cargo estratégico na pasta. Em 2006, Campos foi eleito governador de Pernambuco. No ano seguinte, nomeou Guedes para o comando da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), onde passou a receber em seu gabinete empresários interessados em fazer negócios com o estado. A relação entre os dois velhos amigos incluía laços familiares — as esposas são parentes. Mas Aldo Guedes, segundo a investigação policial, era também o homem responsável pelo lado obscuro das ações do ex-­governador e do PSB.

João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, o dono oficial do jato usado na campanha de Eduardo Campos, foi preso em junho do ano passado, na Operação Turbulência. A exemplo de quase todos os empresários envolvidos nos últimos escândalos de corrupção, João Lyra, como é conhecido, fechou um acordo de delação com a Justiça. Em depoimento ao Ministério Público Federal, revelou que o jato, avaliado em 8 milhões de dólares, tinha como sócio oculto Aldo Guedes. Lyra comprou a aero­nave, mas a maior parte do dinheiro saiu dos bolsos, ou melhor, dos cofres de empresas de fachada. O ex-governador teria escolhido inclusive o modelo da aeronave — porém isso tudo deveria ficar escondido. Ficou combinado que, apenas depois das eleições presidenciais, seria constituída uma empresa operadora de táxi aéreo para administrar o avião — e, enquanto isso não acontecesse, o PSB, para não chamar a atenção pública, bancaria oficialmente o aluguel do jatinho.

O avião não era o único negócio envolvendo o amigo de Campos. Havia mais: “Aldo Guedes era uma espécie de operador de Eduardo Campos”, disse o delator. Segundo ele, o ex-assessor era o coletor de dinheiro do e­­x-governador e do PSB, o verdadeiro homem da mala. Lyra disse que era apenas um intermediário. Revelou que recolhia propina para o esquema de Eduardo Campos e a repassava a Aldo Guedes de várias formas — em dinheiro vivo, em contas no exterior, em serviços simulados de escritórios de advocacia. Aldo era sempre o recebedor. Os contatos entre o delator e o amigo do ex-­governador eram realizados por meio de celulares pré-pagos cadastrados em nome de laranjas. Na chamada telefônica era combinado o local da entrega das malas de dinheiro. “Os repasses de valores ocorreram, na maior parte das vezes, na garagem do prédio residencial em que Aldo Guedes mora”, denunciou Lyra.

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“O homem da mala” – Guedes: o amigo, dono oculto do jato e coletor de propina (Bosco Lacerda)

O amigo de Eduardo Campos também foi delatado por executivos da Odebrecht. Guedes foi acusado por um ex-diretor da empreiteira, Márcio Faria, de ter cobrado propinas, em nome do ex-governador, no valor de 90 milhões de reais para garantir dois contratos da Refinaria Abreu e Lima. O ex-assessor também foi alvo da delação da Camargo Corrêa. De acordo com o ex-presidente da empreiteira Dalton Avancini, o amigo do ex-governador recebeu 8,7 milhões de reais. No ano passado, soube-se que Guedes não operava só para Campos, mas para outros integrantes do PSB, como o senador Fernando Bezerra Coelho (PE). “O Aldo nega qualquer participação em operação de dinheiro. Em relação ao jato, realmente foi oferecido, mas ele não quis”, diz o advogado Ademar Rigueira Neto, que defende o amigo de Campos. É apenas mais um sintoma do empobrecimento da política brasileira descobrir que um partido que chegou a chamar atenção pela suposta lisura é, como se vê, igual a todos os outros quando o assunto é dinheiro sujo.

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2017, edição nº 2540

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