É para o Brasil morrer de inveja. Na quarta-feira 30 de maio, o presidente colombiano Juan Manuel Santos posou para uma foto oficial em Paris com os líderes dos 37 países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o seleto clube das nações mais ricas do mundo. Santos não foi para lá como visitante, mas como um dos anfitriões. A Colômbia será o terceiro país latino-americano a ingressar no grupo, depois do México e do Chile (o Brasil formalizou seu pedido em maio de 2017, mas ainda não foi aprovado).
“Um fator-chave para um país entrar na OCDE é ter uma boa gestão da economia, e a Colômbia tem apresentado um desempenho muito sólido nesse sentido”, diz o cientista político chileno Jorge Heine, membro do programa de América Latina do Wilson Center, em Washington. Aproveitando a viagem pela Europa, Santos passou por Bruxelas, onde assinou um termo para que a Colômbia se torne parceira da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
As carteirinhas dos dois clubes prometem trazer várias vantagens para os colombianos. Com a da OCDE, eles poderão contrair empréstimos internacionais com juros mais baixos. Isso porque a participação na entidade é um atestado de que o país segue as melhores práticas internacionais em várias áreas. “A aprovação do estatuto anticorrupção, a lei de transparência e a aposta para melhorar a qualidade da educação foram as reformas mais positivas que a Colômbia precisou realizar ao longo desse processo”, diz o cientista político colombiano Mauricio Jassir, da Universidade Rosário, em Bogotá. Com a carteirinha da Otan, os colombianos poderão comprar equipamentos bélicos com desconto e trocar informações de segurança e inteligência com as grandes potências.
A Colômbia não será um membro definitivo da Otan, pois só países europeus podem ser admitidos nessa condição. Em um eventual ataque externo aos colombianos, não será aplicado o mandato de defesa coletiva, que obriga a aliança militar a defender qualquer um de seus membros. Ainda assim, a Otan terá um papel fundamental no equilíbrio geopolítico da América Latina. “Pensando em um hipotético conflito com a Venezuela, que é apoiada pela Rússia e pela China, a Colômbia estaria mais protegida no âmbito da Otan”, diz Fabrizio Panzini, pesquisador de América do Sul do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.
O anúncio sobre a OCDE e a Otan foi dado dois dias antes do primeiro turno das eleições presidenciais, no domingo 27. O segundo turno será no próximo dia 17. O favorito é Iván Duque, de direita, o escolhido do ex-presidente Álvaro Uribe. Duque prometeu tirar relevância do acordo de paz com os terroristas das Farc. Teve apoio dos eleitores para essa ideia. O terror começou a se tornar parte do passado diante de novas prioridades. Atualmente, as maiores preocupações são o desemprego, a saúde e a corrupção. O combate à delinquência organizada não é mais urgente, o que sem dúvida é uma conquista do presidente Santos. “A notícia do ingresso do país nesses organismos veio em um momento em que a atenção estava 100% voltada para o período eleitoral, mas ainda assim foi muito bem recebida”, diz o economista colombiano Sergio Guzmán, analista da Control Risks, em Bogotá.
Publicado em VEJA de 6 de junho de 2018, edição nº 2585