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No limite da loucura

Repetidos ataques contra aliados e desafetos, tuítes raivosos e atitudes instáveis levantam suspeitas sobre a sanidade mental de Donald Trump

Por Johanna Nublat Atualizado em 20 out 2017, 06h00 - Publicado em 20 out 2017, 06h00

Com uma frequência incômoda, Donald Trump fala ou age de forma insana. Ele fez Washington estremecer em maio, ao demitir James Comey da chefia do FBI, a polícia federal, enquanto a agência investigava elos da Rússia com sua equipe de campanha. No mês seguinte, chamou uma apresentadora de TV de “louca de baixo Q.I.” e disse que um procedimento estético a tinha feito “sangrar muito” no Ano-Novo. Já esculachou vários de seus colegas republicanos do Congresso ao mesmo tempo que fazia amizades com rivais democratas. Apoiou uma proposta de reforma da saúde feita por seu partido para, pouco depois, classificá-la de “malvada”. E, mesmo mergulhado em delicado imbróglio nuclear com a Coreia do Norte, apelidou o ditador Kim Jong-un de “o homenzinho do foguete”. Esse perfil instável e divisionista do presidente americano desperta ódios e paixões. Ódios, paixões — e dúvidas sobre o estado de sua saúde mental.

Há meses críticos de Trump flertam com a ideia de afastá-lo da Casa Branca sob a alegação de que ele tem uma série de distúrbios mentais que o tornam incapaz de exercer adequadamente suas funções. Tal entendimento chegou a inspirar o movimento Dever de Alertar, formado por profissionais da saúde que lançaram um abaixo-assinado on-line já endossado por 67 000 pessoas.

A preocupação com a saúde mental do presidente também foi exposta em um livro lançado duas semanas atrás nos Estados Unidos, The Dangerous Case of Donald Trump (O Perigoso Caso de Donald Trump), em que 27 psiquiatras, psicólogos e outros especialistas no assunto alertam para comportamentos que podem indicar transtornos. São analisados diferentes graus de narcisismo e suas potenciais consequências sobre um líder tão poderoso. Também aparecem a dificuldade de Trump em confiar em outras pessoas, elementos de sociopatia e hedonismo extremo. O livro não se propõe, obviamente, a encontrar um diagnóstico definitivo sobre o presidente. “Esse é um processo intrincado que leva em consideração todos os aspectos relevantes de uma personalidade complexa”, diz a especialista em direito e psiquiatria Bandy Lee, organizadora da obra. O objetivo, ali, é avaliar o perigo. Completa Lee: “Pode ser preciso ou não um profissional de saúde mental para perceber que alguém é um perigo. Mas, já que lidamos rotineiramente com avaliação de risco e temos um entendimento maior dos padrões subjacentes do comportamento perigoso, pode ser que sejamos capazes de detectá-lo mais cedo do que as outras pessoas”.

LOS ANGELES, CALIFORNIA - APRIL 09: Publisher Larry Flynt attends the Hustler Hollywood new store opening at Hustler Hollywood on April 9, 2016 in Los Angeles, California. (Photo by David Livingston/Getty Images)
Recompensa – “Rei do pornô”, Larry Flynt ofereceu 10 milhões de dólares por informações contra Donald Trump (David Livingston/Getty Images)

A tentativa de afastamento do presidente por uma alegada incapacidade de governar pode ser extrema e de difícil execução. Por outro lado, as repetidas brigas de Trump com desafetos e aliados, a falta de resultados concretos alcançados por sua administração, a ausência de qualquer vitória legislativa em nove meses de governo e sua agressividade no Twitter podem ter o efeito político de desmobilizar sua base e fazer seu partido perder o controle do Congresso nas eleições de 2018. O medo ronda os colegas republicanos, principalmente os que enfrentam a atual campanha de Steve Bannon, que foi estrategista de Trump até ser demitido, em agosto, e agora pretende jogar contra tradicionais congressistas republicanos que vão buscar a reeleição, apostando em nomes novos — uma espécie de batalhão de Donald Trumps.

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Aqui o risco pode ser real para o presidente, já que uma Câmara liderada por democratas poderia dar passos rápidos na direção de um impeachment, sobretudo se a investigação do FBI sobre o Russiagate avançar e alimentar os rivais de Trump com mais elementos de que houve conluio de sua campanha com o governo do russo Vladimir Putin. Um novo empurrãozinho pode ter sido dado na semana passada, com a publicação de um anúncio inusitado na edição dominical do jornal The Washington Post. Nele, o fanfarrão Larry Flynt, magnata da indústria pornográfica e autor de outras polêmicas famosas no meio político americano, oferece 10 milhões de dólares a quem fornecer qualquer informação que possa levar ao impeachment de Trump. Flynt também enumera os problemas que vê na eleição e no governo de Trump, incluindo decisões de política externa marcadas “não por reflexões sóbrias, mas por emoções à flor da pele e tuítes erráticos”.

Apesar das variadas maluquices praticadas pelo presidente, é possível que sua postura e seus atos revelem apenas má conduta. “Há uma tendência de confundir mau comportamento com distúrbios mentais”, diz Allen Frances, autor do livro Twilight of American Sanity — A Psychiatrist Analyzes the Age of Trump (O Crepúsculo da Sanidade Americana — Um Psiquiatra Analisa a Era Trump). Frances defende a ideia de que é ofensivo para quem tem transtornos mentais ser colocado no mesmo saco que o presidente. Diz que a comparação só serve para estigmatizar. “A maior parte dessas pessoas é gentil, bem-intencionada e útil. Trump não é nada disso. Ele chegou aonde está por ser bem esperto, mesmo sem parecer. Nós é que somos loucos por tê-lo eleito.” Pensando bem…

Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2017, edição nº 2553

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