O alerta não partiu das autoridades, cujos esforços de combate ao fogo estavam concentrados em outros focos de incêndio florestal no país. Foi o barulho do vento que anunciou a tragédia ocorrida entre segunda-feira 23 e terça-feira 24. Pois foi o vento, também, a um só tempo mensageiro e algoz, que trouxe as chamas que devoraram um vilarejo inteiro: Mati, um balneário à beira do Mar Mediterrâneo, a 26 quilômetros de Atenas, a capital da Grécia. O aviso da natureza não foi o bastante. Mesmo moradores que haviam avistado o fogo ainda a distância viram-se cercados por ele em poucos minutos. Na fuga, muitos encontraram a morte onde buscavam a salvação. As estradas, subitamente congestionadas, transformaram carros em armadilhas incandescentes. A mulher acima conseguiu escapar — e voltou, ferida, à procura do cachorro que dela se perdera. Centenas de pessoas correram para o mar, buscando na água a segurança contra o fogo. Barcos de pescadores resgataram 700 sobreviventes que conseguiram se manter na superfície, mas pelo menos quatro corpos de afogados foram tirados da água. Um grupo de 26 pessoas que correram em direção ao mar, entre as quais mães com seus filhos, percebeu tarde demais que a rota escolhida levava a uma falésia sem acesso à praia. Cercadas pela fumaça e pelas labaredas, elas buscaram em vão proteção umas nas outras — seus corpos foram encontrados todos juntos, abraçados. No total, mais de setenta pessoas morreram. Incêndios florestais são comuns na Grécia. A vegetação mais seca que o normal para esta época do ano e o calor de 40 graus, tudo associado às rajadas de vento, tornaram o fogo de Mati especialmente devastador.
Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2018, edição nº 2593