A vitória numa Copa do Mundo de futebol tem o inegável efeito de elevar o orgulho nacional e o fervor dos cidadãos torcedores. Houve até, entre os brasileiros, quem tivesse recorrido ao paroxismo da ingenuidade ao torcer contra a seleção só para desencorajar o “ufanismo” e evitar que um possível triunfo beneficiasse o governante impopular de plantão. Mas há uma circunstância em que mesmo as mentes mais avessas ao nacionalismo futebolístico são obrigadas a aceitá-lo: quando o time vencedor é exaltado como uma expressão do colorido cultural e racial de um país, em que pese um contexto de crescente xenofobia e de avanço de forças políticas anti-imigração. A seleção da França, que derrotou a da Croácia na final da Copa da Rússia, no domingo 15, por 4 a 2, era a segunda mais diversa entre todas as que disputaram o Mundial — de seus 23 jogadores, dezessete são naturalizados ou filhos de imigrantes. Na noite da vitória dos Les Bleus, a seleção agora bicampeã, 1 milhão de pessoas fizeram a festa na Avenida Champs-Élysées, diante de um monumento construído por Napoleão Bonaparte em 1806, seis anos antes de o imperador ser derrotado… na Rússia! (A festa depois degenerou em quebra-quebra, feridos, gás lacrimogêneo e prisões, para lembrar que a vida é mais complexa que o futebol.) Iluminado com o azul, o branco e o vermelho da bandeira nacional, o Arco do Triunfo transmitia aos franceses a satisfação de terem voltado a Moscou para vencer de uma maneira diferente — e como uma nação multicolorida, dentro e fora dos campos.
Publicado em VEJA de 25 de julho de 2018, edição nº 2592