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Menos é mais

Taxa Selic deve cair ao valor mais baixo desde a década de 50, beneficiando empresas e consumidores. Mas, sem o avanço das reformas, queda será passageira

Por Giuliano Guandalini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 20h53 - Publicado em 27 out 2017, 06h00

Com a trégua nos preços, o Banco Central cortou novamente a taxa básica de juros, a Selic, reduzida agora para 7,5%. Em dezembro deve ocorrer uma nova queda, dessa vez para 7%. Sem surpresas pela frente e com a inflação controlada (abaixo da meta de 4,5% ao ano), os juros deverão ficar ao redor desse índice nos próximos meses. Trata-se de uma grande notícia. Há mais de sessenta anos os brasileiros não convivem com taxas tão baixas, exceto por um breve período entre 2012 e 2013, quando a Selic chegou a cair para 7,25%. Naquela ocasião, entretanto, a redução se deu em uma tentativa atabalhoada do governo Dilma Rousseff de fazer os juros baixar na marra. A inflação ficou mascarada por algum tempo, mas voltou com força em poucos meses — e as taxas explodiram.

Agora, os juros estão caindo de maneira “sustentável”, como dizem os economistas: existem condições para diminuir o custo do dinheiro sem jogar lenha na fornalha da remarcação de preços. O alívio deverá, gradativamente, chegar às empresas e aos consumidores, dando fôlego renovado aos investimentos e ao consumo. Vários organismos já projetam um crescimento do PIB para o próximo ano na casa dos 3%. Esse cenário benigno, entretanto, dependerá de uma conjunção de fatores. O principal deles é o avanço das reformas.

A equipe de Michel Temer, a despeito dos contratempos políticos, tem se esforçado em fazer os ajustes necessários. Foi aprovado o teto constitucional para o aumento futuro dos gastos, por exemplo. Mas a batalha vital para que o país reconquiste a confiança será a da aprovação da reforma da Previdência. Os gastos com aposentadorias representam a maior parte da despesa do governo e continuarão em forte alta nos próximos anos. O rombo esperado para 2018 ultrapassa os 200 bilhões de reais. Para financiar esse ralo fiscal, o governo necessita contrair novas dívidas. Sem a reforma, a conta seguirá em elevação — e aí adeus aos juros baixos. Isso acontece porque, se o custo da Previdência não for contido, haverá um aumento da dívida pública, o país entrará novamente em descrédito, a cotação do dólar voltará a subir e ocorrerá um inevitável impacto nos preços, o que forçará o BC a elevar a taxa Selic. O governo sabe disso e deseja pôr em pauta quanto antes a votação da reforma previdenciária.

Em uma análise sobre as perspectivas para os juros, o economista-chefe do Santander, Maurício Molan, afirma ser provável que o ambiente com as menores taxas desde a década de 50 permaneça até 2019. No entanto, o eventual fracasso na aprovação da reforma é apenas um dos riscos que podem azedar o momento favorável. Os juros começam a subir nas maiores economias do mundo, depois de terem sido mantidos próximo de zero por uma década. Esse processo poderá trazer solavancos, com efeitos no Brasil. Uma ameaça interna é a possibilidade de um candidato contrário às reformas ganhar força na campanha do próximo ano. “Há riscos consideráveis, que podem fazer o cenário mudar”, afirma o gestor de recursos Marcelo López, da L2 Capital. “O Brasil ainda é vulnerável. O dinheiro sai rapidamente do país quando piora o humor dos investidores.” A economia não caminha mais à beira do precipício, como era o caso há dois anos. A queda dos juros para níveis historicamente baixos é um sinal disso. Mas os ajustes mal começaram. Sem eles, os juros voltam às alturas.

Publicado em VEJA de 1º de novembro de 2017, edição nº 2554

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