Memória: Rhonda Fleming, Ed Benguiat e Spencer Davis
Relembre a trajetória dessas personalidades
O que fazer com olhos verdes e cabelos espetacularmente ruivos no tempo em que o cinema era majoritariamente em preto e branco? Interpretar com elegância e sensualidade, como fazia a atriz americana Rhonda Fleming. Até que, em 1949, estreou a comédia musical Na Corte do Rei Arthur, baseada em um livro de Mark Twain, lançada com estardalhaço porque era colorida — ou technicolor, a tecnologia de saturação que reinventaria o cinema. E, então, os fios vermelhos da cor de fogo de Rhonda, em contraste com sua tez alvíssima, viraram marca registrada de uma das primeiras sex symbols de Hollywood. “E, de repente, toda atenção foi direcionada para a minha aparência, e não para a minha atuação”, disse. Ela ficaria conhecida também por ter contracenado com Ronald Reagan, futuro presidente dos Estados Unidos, em A Revolta dos Apaches, A Audácia É a Minha Lei, O Carrasco dos Trópicos e Hong Kong. Sobre Reagan nos sets de filmagem, ela diria, destacando a modéstia do par diante das câmeras: “Ele surpreendia a todos por nunca se olhar no espelho; quantos atores podem falar isso?”. Rhonda tinha 97 anos. Morreu em 16 de outubro em Santa Mônica, na Califórnia, de causas não reveladas pela família.
O mestre da tipologia
No fim dos anos 1940 e início dos anos 1950, o baterista Eddie Benart fazia sucesso nos clubes de jazz de Manhattan. Desiludido, talvez porque quisesse voos mais altos, intuiu que a habilidade de suas mãos com as baquetas poderia ajudá-lo numa atividade paralela que exercia com excelência — o desenho. Nascia ali Ed Benguiat, um dos mais respeitados criadores de tipologias e logomarcas do século XX. Em sua extensa lista de obras estão as marcas do The New York Times, da revista Esquire, da Tiffany, da Ford, dos cartazes de filmes como O Planeta dos Macacos, de 1968, e, mais recentemente, da série Stranger Things. Benguiat ora modernizava as grifes e as letras, ora as fazia nascer do zero. Ele tinha 92 anos. Morreu em 15 de outubro, em Cliffside Park, no distrito de Nova Jersey.
Um ícone da invasão britânica
Houve os Beatles e os Rolling Stones — mas houve também o The Spencer Davis Group na invasão da música britânica nos EUA dos anos 1960. O guitarrista Spencer Davis, o criador da banda com nome de grupo de jazz, arregimentou o vocalista Steve Winwood, um irmão do músico, o baixista Muff Winwood, e o baterista Pete York para montar uma trupe de sucesso instantâneo. O primeiro hit foi Keep on Running, de 1965, atalho para Gimme Some Lovin’, de 1966. Mas por que, afinal, o grupo levava o nome de Davis? Conta a lenda que seus companheiros autorizaram a suposta arrogância para que pudessem continuar dormindo enquanto Davis dava entrevistas. Ele tinha 81 anos. Morreu de pneumonia, em Los Angeles.
Publicado em VEJA de 28 de outubro de 2020, edição nº 2710