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Explosão estelar

A pioneira observação do choque de dois astros abre uma nova perspectiva para a astronomia

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 out 2017, 06h00 - Publicado em 20 out 2017, 06h00

Em meio à imensidão escura do universo, a principal fonte de informações utilizada até agora pelos cientistas para descortinar os mistérios do cosmo havia sido a luz. Pelo brilho das estrelas e outros corpos afins, os astrofísicos montaram teorias acerca de sistemas planetários e buracos negros. Contudo, uma descoberta anunciada na segunda-feira 16 provou que é possível observar o espaço por meio de outro elemento: o som. No caso, a forma como se registra, em arquivo de áudio, a propagação das ondas gravitacionais — a primeira detecção desse tipo, ocorrida em 2015, rendeu o Nobel de Física deste ano ao alemão Rainer Weiss e aos americanos Barry Barish e Kip Thorne. A novidade agora trazida à tona pelo laboratório em que trabalham os laureados, o americano Ligo, em parceria com o italiano Virgo, é a seguinte: pela primeira vez se registrou a colisão de duas estrelas de nêutrons (astros muito, muito densos que restam da explosão de outras estrelas), graças ao uso de uma técnica que combina a detecção da luz com o barulho emitido pelas ondas gravitacionais. Essa forma de estudar o cosmo, por meio da luz e do som, foi chamada de “astronomia multimensageira”. O nome, inspirador, já pegou.

Esse revolucionário método foi empregado pioneiramente em 17 de agosto. Nesse dia, as ondas gravitacionais, geradas pela distorção do espaço-tempo causada pelo impacto das duas estrelas, foram detectadas pelo Ligo. Dois segundos depois — uma diferença esperada —, o Virgo identificou a luz, em forma de raios gama. O somatório dos dados captados pelo Ligo e pelo Virgo permitiu concluir que a origem de ambas as informações, som e luz, se deu há 130 milhões de anos, num evento no qual as estrelas de nêutrons — cada uma do tamanho de uma cidade como Londres, mas com massa superior à do Sol — orbitaram uma ao redor da outra até se chocarem. Desde a segunda-feira 16, mais de trinta artigos, publicados em revistas de prestígio como Nature e Science, compilaram as descobertas decorrentes do registro inédito.

“Foi a mais intensa campanha observacional de todos os tempos”, empolgou-se o diretor executivo do Ligo, o físico americano Dave Reitze. Há exagero nessa afirmação, justificável para que se garanta a continuidade do orçamento do laboratório — seus gastos, desde 1992, já ultrapassaram 1 bilhão de dólares. Entretanto, dependendo das consequências a longo prazo, a notícia pode ser comparável, por exemplo, ao lançamento do telescópio Hubble pela Nasa, em 1990, cujos equipamentos permitiriam que a humanidade vislumbrasse sistemas planetários longínquos. Ou, recuando ainda mais no tempo, à criação das primeiras lunetas astronômicas, por Galileu, no século XVII. Com a técnica de “multimensagens”, espera-se descobrir o que teria acontecido após a colisão estelar — uma tese é que um buraco negro se formou. Seria uma luz e tanto sobre a imensa escuridão do universo que ainda nos resta iluminar.

Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2017, edição nº 2553

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