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Ensinar para o amanhã

A sala de aula precisa de uma reviravolta para estar em sintonia com a realidade brasileira. Esse foi o tema do evento Amarelas ao Vivo, promovido por VEJA

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 6 jun 2018, 14h29 - Publicado em 1 jun 2018, 06h00

Nesta era em que o conhecimento salta de patamar a uma velocidade jamais vista e o acesso a ele é tão disseminado, as escolas estão em busca de caminhos para se fazer atraentes e relevantes. Por enquanto, o Brasil se arrasta no pelotão de trás na corrida global por um ensino mais sintonizado com a demanda moderna — e tem muito que aprender com quem está fazendo direito o dever de casa. É o caso da Finlândia, que se posicionou na vanguarda das mudanças ao propor uma educação que dilui as fronteiras entre as disciplinas e põe as crianças para investigar problemas concretos. “Não foi fácil, houve resistência, mas estamos na trilha certa para uma escola mais interessante para as novas gerações”, disse a secretária de Educação de Helsinque, Marjo Kyllönen, durante o evento Amarelas ao Vivo, promovido por VEJA com o patrocínio do GPA, do Instituto Mauá de Tecnologia e da Fundação Victor Civita, na terça-feira 29, em São Paulo. Segundo Marjo, não se trata de o Brasil “copiar e colar” o modelo, dadas as diferenças que separam os dois países, mas de se inspirar nele.

O encontro, uma versão de palco das Páginas Amarelas da revista, reuniu onze entrevistados (veja o quadro abaixo) que trouxeram à luz obstáculos e gargalos da educação no Brasil e também saídas para que o país deixe a zona de notas vermelhas. O historiador Leandro Karnal deu a dimensão do desafio: “É a primeira vez na história que não temos a mínima ideia do que será útil daqui a quarenta anos”. Por isso mesmo, não há mais espaço para um ensino enciclopédico, que tem no acúmulo de conhecimento o seu valor essencial, fórmula que casava bem com as exigências do passado. A experiência de países que se despregam da média mostra que o crucial nos dias de hoje é absorver conceitos e conseguir aplicá-los em situações imprevisíveis, à base de raciocínio lógico, criatividade, trabalho em equipe e tantas outras dessas habilidades conhecidas como socioemocionais.

Trazê-las à sala de aula de forma efetiva é um gigantesco desafio. A nova Base Comum Curricular, que passará a ser adotada nas escolas a partir de 2019, prevê isso para todas as séries. É um começo. “Não dá mais para pensar em uma escola que não preste atenção em tais competências”, enfatizou a socióloga Maria Helena Guimarães de Castro, ex-secretária executiva do Ministério da Educação e idealizadora da Base, que demarca uma mudança radical e necessária no ensino médio. Sim, ele será menos conteudista e mais flexível, acompanhando os ventos modernos. O modelo atual, fiado na ideia de quanto mais matérias, melhor, é comprovadamente fracassado e excludente: metade dos alunos que ingressam no ensino médio fica pelo caminho.

A escola do século XXI acolhe uma geração nascida no mundo das telinhas e não pode ignorar o fenômeno. “Separar um aluno do celular é quase como impedi-lo de respirar”, resume Karnal. Educadores de toda parte estão tentando unir tecnologia e ensino de forma produtiva, porém a maioria ainda alcança resultado nulo — os alunos acabam desviando a atenção do que importa. Mas às vezes a rede dá, sim, um bom empurrão no aprendizado, dentro e fora da escola. O YouTube está repleto de canais como o Manual do Mundo, que atrai 10 milhões de crianças e jovens apresentando experiências e curiosidades científicas. “Temos o relato de muita gente que se interessou em fazer faculdade de física, química, biologia assistindo ao canal”, disse Mariana Fulfaro, uma das fundadoras do Manual.

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GERAÇÃO TELINHA –  Fazer da tecnologia uma aliada é um grande desafio (Jefferson Coppola/VEJA)

Com toda a reviravolta por que passa o ensino, porém, escola boa continua sendo aquela que tem professores preparados e pais vigilantes que cobram qualidade. Quando a sociedade se mexe, o nível da educação sobe. A presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, lembrou que a promulgação da Constituição de 1988 foi um marco nesse sentido. “O fato de os brasileiros terem consciência de seu direito à educação colocou uma pressão extra sobre todos os poderes”, disse a ministra. Se cada um fizer sua parte, o Brasil começará a ter chances de entrar na corrida pela excelência.

 

Publicado em VEJA de 6 de junho de 2018, edição nº 2585

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