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De eleitor a algoz

O estudante Sergio Moro votou no candidato Lula. Agora, quase trinta anos depois, o juiz responsável pela Lava-Jato mandou prender o ex-presidente

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h51 - Publicado em 7 abr 2018, 06h00
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  • Para 31 milhões de eleitores, Lula era o melhor candidato para ocupar a Presidência da República já em 1989. Responsável pela Operação Lava-Jato, Sergio Moro também pensava assim. Estudante secundarista de Maringá, ele votou pela primeira vez aos 17 anos. Seu candidato preferido não passou do primeiro turno. Entre Lula e Fernando Collor, os dois finalistas, Moro não teve dúvida. Três décadas depois, os nomes dos dois ex-presidentes apareceram no gabinete do juiz, em Curitiba, envolvidos no maior escândalo de corrupção da história. Collor, que ganhou a eleição em 1989 e sofreu impeachment três anos depois, foi apanhado recebendo propina. Como ele está no exercício do mandato de senador, o que lhe confere o direito ao foro privilegiado, seu caso foi enviado ao Supremo Tribunal Federal. O ex-presidente Collor, ainda sem ser admoestado pela morosa Justiça em Brasília, anunciou que disputará novamente a Presidência da República em outubro.

    O caso de Lula permaneceu sob os cuidados da Justiça Federal do Paraná, onde ele foi condenado por Sergio Moro por corrupção e lavagem de dinheiro. Com a negativa do Supremo de conceder um habeas-corpus ao ex-presidente, coube ao juiz emitir a ordem de prisão para que o petista começasse a cumprir a pena. O magistrado poderia ter esperado até a próxima semana, quando venceria o prazo para que os últimos recursos fossem apresentados ao Tribunal Regional Federal (TRF4), ou decretar de imediato a prisão, sem a necessidade de aguardar a publicação da decisão do Supremo ou o julgamento dos eventuais embargos em Porto Alegre. Mas, na tarde de quinta-feira, ele recebeu o sinal verde do TRF4. O decreto de prisão de Moro seguiu o padrão. Além de notificar a Polícia Federal da ordem a ser cumprida, o juiz indicou o local para onde Lula deveria ser encaminhado.

    No despacho, Sergio Moro informou que não pretendia mandar a Polícia Federal buscar o ex-presidente em sua residência ou em qualquer outro lugar. Líder nas pesquisas pela corrida presidencial, Lula recebeu a oferta de se entregar à polícia. Sem algemas e sem camburão. Com dia e horário marcados. Logo nas primeiras horas depois de o Supremo ter negado o habeas-corpus, Moro, ainda de madrugada, começou a traçar a estratégia que tinha o objetivo de evitar manifestações ou tumultos durante a prisão do ex-presidente. Ele pretendia minimizar o risco de que a execução do mandado se transformasse em um espetáculo. Para impedir possíveis confrontos, Moro preferiu negociar com a defesa a hora e o local da apresentação de Lula.

    O magistrado recebeu uma carta com detalhes do que seria um possível atentado contra sua vida

    O planejamento da PF, revelado por VEJA no mês passado, previa cinco locais onde o ex-­presidente poderia começar a cumprir pena. Além do Estado de São Paulo, onde o petista tem residência, um dos lugares estudados era um quartel do Exército em Curitiba. Outro, uma base aérea a 5 quilômetros da sede da Polícia Federal na capital paranaense. Existia ainda a possibilidade de Lula ser levado ao Complexo Médico­-Penal de Pinhais, cadeia onde estão detidos os condenados da Lava-Jato no Paraná. Por último, uma área dentro da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba que já estava sendo preparada para receber o ex­-presidente — opção considerada ideal por policiais envolvidos na operação. Sergio Moro, por questões de segurança, escolheu a sala da PF que foi transformada em cela.

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    Atacado por petistas e simpatizantes do ex-presidente desde o início da Lava-Jato, Moro sentiu na pele as consequências de enfrentar interesses poderosos. Ele não gosta de falar sobre o tema, mas, a pessoas próximas, reclama da falta de privacidade desde que passou a receber a proteção de agentes da Polícia Federal. Um simples passeio com os filhos é sempre uma operação delicada. Além de ter os agentes por perto, Moro é instado a usar disfarces para não ser reconhecido. Em geral, o juiz é alvo de intimidações que partem do universo anônimo da internet. Mas já houve investidas mais graves. Numa delas, um homem escreveu uma carta endereçada ao juiz contendo detalhes do que se delineava como um possível atentado contra ele. A PF descobriu que o autor era um doente mental, internado num hospício. São personagens assim, desequilibrados, que costumam estar por trás de crimes violentos. Por isso Moro é protegido 24 horas por dia — esquema de segurança que, por prudência, deve ser reforçado ainda mais a partir de agora.

    Publicado em VEJA de 11 de abril de 2018, edição nº 2577

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