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De costinhas eretas

Estudo mostra que os efeitos da meditação são mais expressivos em crianças. No Brasil, a prática já faz parte do currículo de escolas particulares

Por Natalia Cuminale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jul 2018, 06h01 - Publicado em 6 jul 2018, 06h00
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  • Fim da aula de matemática, os vinte alunos do 6º ano do Colégio Oswald de Andrade, em São Paulo, se dispersam e conversam alto. Em meio à balbúrdia, a professora da disciplina seguinte entra na sala, posta-se em frente ao grupo e pergunta: “Vocês acham que a mente de vocês tem mais pensamentos positivos ou negativos?”. A maioria grita: “Negativos!”. Eles contam ter medo de ir mal numa prova, machucar-se no jogo de futebol e fazer algo que resulte em bronca dos pais. A professora, então, diz que eles podem treinar o corpo para melhorar isso. “Sentem-se com as costas eretas, mãos nos joelhos e pés no chão. Respirem fundo, fechem os olhos e prestem atenção nas palavras boas que vou dizer.” Ela pede que eles se imaginem no quarto de casa de manhã e que emitam um pensamento de felicidade. Após quatro minutos, findo o exercício, a classe está notoriamente mais tranquila. Os estudantes passam a falar mais baixo e aparentar calma. Perguntados, todos dizem se sentir mais relaxados. O que se viu foi uma aula de meditação para crianças, prática adotada em duas dezenas de escolas particulares de São Paulo e do Rio de Janeiro. Nos Estados Unidos, estima-se que 1 milhão de meninos e meninas sejam adeptos regulares da meditação, disciplina eletiva na maior parte dos estados.

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    Um levantamento publicado na revista científica americana Psychology Research and Behavior Management mostrou que os efeitos já comprovados da meditação são poderosos no organismo infantil. Das vinte crianças de 9 anos analisadas, todas com algum grau de ansiedade, apenas as que se exercitaram na prática (por 45 minutos diários em oito semanas) apresentaram melhoras em aspectos emocionais, como maior socialização e redução de sentimentos como tristeza, medo e raiva, além de aumento da concentração. A melhora geral foi da ordem de 35%, diz o levantamento. Uma das explicações para esse bom resultado reside no fato de que o cérebro da criança é mais receptivo a estímulos, por estar em formação. “Quanto antes ela passar a praticar, mais eficaz será a ação”, diz a pediatra Paula Pasqualucci, instrutora do Estúdio de Meditação Moved by Mindful­ness, em São Paulo. Manuela Eizirik Polanczyk, de 9 anos, começou a meditar há dois meses, em casa, com a irmã Clara, de 6 anos. A mãe, Mariana, adepta da prática, contratou uma professora para iniciar as meninas nos exercícios. Manuela gostou: “Isso me acalma quando estou irritada ou triste”.

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    Para aumentar a capacidade de concentração e relaxamento, o praticante da meditação é ensinado a ter “consciência plena” do momento presente — algo que os adultos conseguem mais facilmente: quase sempre, basta que prestem atenção na própria respiração. Com as crianças, é diferente. “Elas precisam de situações mais figurativas, como imaginar-se em algum lugar descrito em detalhes”, diz Daniela Degani, professora de meditação do Oswald de Andrade e de outras escolas. Os efeitos na saúde começaram a ser estudados nos anos 70. Comprovou-se, então, que o hábito de esvaziar a mente ajuda a controlar as taxas de hormônios ligados ao stress. Na década de 90, as pesquisas avançaram  com o aperfeiçoamento dos exames de imagem cerebral. Entre as crianças, elas tiveram início há uma década apenas — mas os ânimos dos pequenos já parecem mais serenos.

    Publicado em VEJA de 11 de julho de 2018, edição nº 2590

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