Datas: Isabel do Vôlei, Luiz Antônio Fleury Filho e Mehran Karimi Nasseri
A ex-jogadora à frente do seu tempo, o ex-governador de SP e o homem que inspirou o filme 'O Terminal'
Antes de o vôlei feminino conquistar duas medalhas olímpicas de ouro, antes de o masculino subir três vezes ao ponto mais alto do pódio, antes mesmo da explosão das duplas de praia, houve Isabel Salgado, a Isabel do Vôlei. Garota de Ipanema, cedo começou a jogar pelo Flamengo. O caminho para a seleção foi rápido e vencedor. Aos 19 anos, saiu do Brasil e foi para um time no exterior, na primeira das portas abertas por ela. Teve quatro gestações ao longo da carreira, e ser mãe nunca a atrapalhou. “Foi uma mulher à frente de seu tempo”, diz o treinador José Roberto Guimarães. Suas cortadas de direita eram imparáveis. Suas opiniões em torno de comportamento e política, ruidosas. Em 1982, foi capa de VEJA como “A musa do esporte”. Começaria a trabalhar na equipe de transição do presidente eleito Lula. Isabel morreu em 16 de novembro, aos 62 anos, em decorrência de uma síndrome aguda respiratória fulminante.
Governador controverso
Governador de São Paulo entre 1991 e 1994, ao vencer nas eleições Paulo Maluf, o emedebista Luiz Antônio Fleury Filho teve dois grandes destaques em sua gestão, um positivo e o outro imensamente negativo. Foi dele a ideia da criação do Projeto Tietê, de despoluição do rio paulista que, entre altos e baixos, mudou a cara da artéria hídrica em alguns trechos, agora limpos. A mancha indelével: o Massacre do Carandiru, em outubro de 1992, que resultou em infames 111 mortos. Fleury Filho não foi condenado pelo episódio. No júri popular de 2013 ele disse não ter dado a ordem de invasão do presídio, mas frisou, com sinceridade: “A entrada foi necessária e legítima, a polícia não pode se omitir”. Ele morreu em 15 de novembro, aos 73 anos, de causas não reveladas.
O sem-teto do aeroporto
Ele morava entre uma pizzaria e uma loja de produtos eletrônicos. Sua casa era um banco de plástico vermelho. Numa mesinha havia um espelho de mão e um barbeador elétrico, que usava todas as manhãs. Uma coleção de recortes de jornais tratava de sua vida insólita. O refugiado iraniano Mehran Karimi Nasseri viveu dezoito anos no terminal 2F do Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, em Paris. Nasseri foi a inspiração para o filme O Terminal, de 2004, dirigido por Steven Spielberg e com Tom Hanks na pele do protagonista.
O iraniano estava a caminho da Inglaterra via Bélgica e França em 1988 quando perdeu seus documentos e não pôde embarcar em um voo nem sair do aeroporto. Em 1999 ele obteve autorização para viver em Paris, mas abriu mão do direito. Acostumara-se com o cotidiano de sem-teto. Nasseri morreu em 12 de novembro, ali onde passou quase duas décadas. Tinha supostos 77 anos.
Publicado em VEJA de 23 de novembro de 2022, edição nº 2816