Datas: Aloy Jupiara e Bernie Madoff
O jornalista que jamais perdeu a ternura e o tubarão de Wall Street

O boleto para a colaboração financeira aos Médicos sem Fronteiras era, havia muitos anos, prioridade total para Aloy Jupiara na hora de realizar seus pagamentos mensais. Ninguém ficava sabendo que ele os ajudava, e nem tinha por quê. Discreto e solidário, o jornalista apoiava não apenas com dinheiro as causas em que acreditava (como as questões ligadas à africanidade e o respeito às minorias), mas também doava seu tempo e sua inteligência sofisticada para fortalecê-las — por meio de artigos, palestras, cursos, livros. Com mais de vinte anos de carreira em jornais cariocas como O Globo, Extra e O Dia, onde era editor-chefe, Aloy era conhecido pela excelência no trabalho e pelo modo como tinha os subordinados “na mão”: era firme, mas sem perder a ternura jamais. Foi um dos pioneiros no jornalismo on-line no país e, apesar de tanta desenvoltura digital, era adepto de um método dos mais prosaicos para não deixar escapar as ideias que surgissem enquanto estivesse na rua, ou na mesa cativa que mantinha numa livraria carioca — anotava tudo em folhas em branco guardadas na mochila que costumava levar às costas.
Apaixonado por Carnaval e literatura, Aloy não entendia por que o romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, nunca tinha sido tema de enredo. “Não faz sentido”, dizia. Jurado e, posteriormente, coordenador do Prêmio Estandarte de Ouro, do Globo, integrou o grupo responsável por transformar o Samba do Rio em patrimônio imaterial do Brasil, em 2007. Escreveu, em parceria com o também jornalista Chico Otávio, os livros Deus Tenha Misericórdia dessa Nação: a Biografia Não Autorizada de Eduardo Cunha e Os Porões da Contravenção, sobre a relação entre a ditadura e o jogo do bicho no Rio. Aloy morreu em 12 de abril, aos 56 anos, em decorrência de complicações da Covid-19.
O tubarão de Wall Street

Se fosse preciso dar um rosto à década de desatinos e exageros do mercado financeiro do fim do século passado, ele teria a cara do nova-iorquino Bernie Madoff, autor confesso do maior esquema em pirâmide, chamado de Ponzi, da história americana. Em 2008 a armação de Madoff foi desvendada a partir da denúncia dos próprios filhos: ele lesara, durante pelo menos quarenta anos, mais de 30 000 investidores em 136 países, entre os quais personalidades de Hollywood, como o diretor Steven Spielberg. O financista, que se apresentava como um guru de negócios, exemplo clássico do self made man que começara a vida como salva-vidas de praia, recebia as poupanças de seus clientes e não cumpria nenhuma das estratégias de rendimentos que lhes apresentava diligentemente. O rombo chegou a mais de 60 bilhões de dólares. Madoff foi condenado em 2009 a 150 anos de cadeia. No julgamento, foi obrigado a vestir um colete à prova de balas, dada a rede de evidentes inimizades que alimentara. No fim do ano passado, vítimas da contravenção conseguiram o direito de receber 488 milhões de dólares em reembolso de um fundo especial de indenizações. Ele morreu em 14 de abril, aos 82 anos, numa prisão da Carolina do Norte, de causas não reveladas pela família.
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Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734