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Corpos sem censura

Histórias da Sexualidade foi a primeira exposição do Masp a ter classificação etária. A norma se flexibilizou um tantinho, e a mostra já é merecido sucesso

Por Jerônimo Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 18h28 - Publicado em 24 nov 2017, 06h00
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  • O texto que acompanha Cena de Interior II denuncia previsivelmente a “cultura do estupro” que estaria representada no quadro da brasileira Adriana Varejão — e traz um significativo aviso sobre o sentido dos variados atos sexuais que aparecem na obra: “Não se trata da apologia de tais práticas, mas de seu registro ficcional”. Cena de Interior II esteve no Queermuseu, exposição acossada pela grita censória dos manifestantes de MBL e associados e em seguida cancelada pelo Santander Cultural de Porto Alegre. Como há um animal entre os personagens do quadro, levantou-se a esdrúxula acusação de “apologia da zoofilia”. A presença dessa obra em Histórias da Sexualidade, mostra em cartaz no Museu de Arte de São Paulo, já estava prevista bem antes do patético episódio porto-alegrense. Mas é claro que o texto curatorial tenta esvaziar preventivamente qualquer eventual sanha censória. Também preventivamente, o Masp instaurou, pela primeira vez, uma classificação indicativa para uma exposição: 18 anos. Em outubro, quando Histórias da Sexualidade abriu as portas, o limite etário era restritivo: ninguém com menos de 18 podia entrar. Mas uma Nota Técnica do Ministério Público Federal — esclarecedor texto jurídico dos procuradores Deborah Duprat e Sergio Gardenghi Suiama — restaurou o bom-senso mínimo: garotos, garotas e garotxs com menos de 18 anos acompanhados de pais ou responsáveis podem entrar.

    Com 52 000 visitantes em suas primeiras cinco semanas, a exposição é um sucesso. A montagem em núcleos temáticos (às vezes com títulos canhestros como Performatividades de Gênero) traz contrastes instigantes, como o sereno São Sebastião do renascentista italiano Pietro Perugino lado a lado com o bondage gay do fotógrafo americano Robert Mapplethorpe. Algumas peças ofenderão os mais sensíveis, como as fotos sensacionalistas do peruano Sergio Zevallos, nas quais uma santa da devoção de seu país é encarnada por um travesti desgrenhado e de sexo exposto. E há que descontar certo pendor militante. François Clouet, um francês do século XVI, comparece com um quadro sobre o mito de Acteon, o caçador que espia a deusa Diana em seu banho e por isso é transformado em cervo e dilacerado por seus cães — senha para o texto da mostra exaltar a vitória do poder feminino contra o “olhar masculino objetificante e dominador” (cuidado para o cachorro não devorar seu desejo, visitante heteronormativo!). As melhores obras dispensam essa retórica. O langor despreocupado da adolescente nua que brinca com o gato na tela de Balthus — outro francês, agora do século XX —, vinda da Galeria Nacional de Victoria, na Austrália, se oferece até para o tal olhar dominador, mas não se deixa dominar por ele.

    Publicado em VEJA de 29 de novembro de 2017, edição nº 2558

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