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Copa de 1 a 10

Coluna publicada em VEJA de 18 de julho de 2018, edição nº 2591

Por Roberto Pompeu de Toledo
Atualizado em 4 jun 2024, 16h34 - Publicado em 13 jul 2018, 06h00

1. Copa do Mundo é o máximo. Não há espetáculo melhor e maior, até para quem não gosta de futebol. A Olimpíada, dispersa em muitos jogos, e com resultados mais previsíveis na maioria das modalidades, não é tão empolgante. Os recursos atuais da televisão, capazes de trazer os lances, as caras e as pernas dos jogadores em cruciais detalhes, acrescentaram-lhe doses extras de plasticidade e tensão. O embate país contra país não é tão nítido e cortante nos Jogos Olímpicos.

2. Esta foi a Copa da afirmação definitiva da Europa da imigração e da miscigenação. Segundo levantamento do jornal inglês The Guardian, 78,3% dos jogadores da seleção francesa têm pais estrangeiros, assim como 47,8% dos jogadores ingleses e os mesmos 47,8% dos belgas. Calem-se os movimentos fascistas e xenófobos que infestam o Velho Continente que um valor mais alto se alevanta — o das glórias impossíveis sem a injeção do sangue novo.

3. Pelé previu que um país africano ganharia a Copa do Mundo ainda no século XX. Errou. Estamos no quinto Mundial do século XXI, e isso ainda não aconteceu. Os filhos dos africanos, porém, vingam o malogro da terra de seus pais com forte presença nas equipes da França, da Inglaterra e da Bélgica, três dos quatro semifinalistas. A Copa de 2018 marca o triunfo da Europa preta e mulata.

4. Em Londres, não bastassem as discordâncias dentro do gabinete de Theresa May, o futebol infiltrou-se no Brexit. Os que votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia o fizeram, em grande parte, pelo repúdio à entrada de imigrantes. Não fossem os imigrantes, a Inglaterra não teria realizado a boa campanha que realizou na Rússia.

5. Na Bélgica a Copa avivou, pelo menos enquanto durou a participação de sua seleção, um sentimento de unidade nacional. Na Bélgica existem os valões, que falam francês, e os flamengos, que falam holandês, duas comunidades fechadas em si mesmas. O valão se sente e se pensa valão, o flamengo se sente e se pensa flamengo, e a figura de um belga não passava de abstração — até surgir Romelu Lukaku, filho de pai e mãe congoleses. Lukaku, o artilheiro da seleção, não é valão nem flamengo. É o verdadeiro belga. Graças a ele, as multidões se reuniam para festejar, nas praças do país.

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6. Primeiro caiu Messi, depois Cristiano Ronaldo. Ausentes os principais rivais, Neymar tinha a chance de se afirmar nesta Copa como o melhor do mundo. Na retomada da rotina do futebol, espera-o tarefa inglória. Com grandes atuações na Copa do uruguaio Cavani e do francês Mbappé, seus companheiros de clube, o desafio é confirmar-se como o melhor jogador do Paris Saint-Germain.

7. O técnico Tite saiu consagrado da derrota. Flávio Costa, o técnico da seleção de 1950, conduziu o time em uma brilhante campanha, mas a derrota na final valeu-lhe o apelido de “coveiro”. Tite conduziu o time numa campanha mais ou menos, perdeu nas quartas de final, e deixou a Copa da Rússia sob gerais elogios e apelos para que continue no cargo. Contra o 7 a 1 de 2014, valeu-lhe o magro 2 a 1 da desclassificação contra a Bélgica.

8. Tite falhou na mais importante de suas missões: fazer valer sua autoridade junto ao principal jogador do elenco. Neymar teve a complacência do técnico em todos os seus desatinos, a começar por apresentar-se para o primeiro jogo com um cabelo que imitava espaguetes em transe e a terminar com a insistência no número de rolar no gramado a cada toque do adversário. Tratava-se de salvar Neymar da galhofa, e a seleção por tabela. Tite não o compreendeu.

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9. Os críticos reclamam um “projeto” para o Brasil fazer figura melhor em 2022. Que projeto pode vingar, sem bons clubes e campeonatos no país? E que bons clubes e bons campeonatos esperar se, mal despontam, os jogadores promissores deixam o país?

10. O futebol é o máximo. A chegada da Croácia à final, país de população escassa (4,2 milhões de habitantes), economia inexpressiva e pouca tradição no esporte inventado pelos ingleses (depois de disputar a semifinal justamente contra os inventores), é um milagre só possível pelos deuses que regem a sorte dos dribles inacreditáveis, dos tiros fortuitos que entram no gol, dos frangos dos goleiros, das defesas impossíveis e das bolas na trave.

Publicado em VEJA de 18 de julho de 2018, edição nº 2591

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