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Ex-presidente da Dersa indicado por Alckmin é preso em operação da Polícia Federal que investiga fraude e superfaturamento em obras do Rodoanel

Por Ana Clara Costa Atualizado em 22 jun 2018, 11h48 - Publicado em 22 jun 2018, 06h00

A cada pequeno passo dado pelo tucano Geraldo Alckmin na corrida presidencial, um fosso se abre logo à sua frente. A semana, que começou com a expectativa de que seu novo núcleo político capitaneado pelo ex-governador de Goiás Marconi Perillo pudesse avançar na costura de acordos com partidos de centro, terminou em clima de apreensão. Indicação de Alckmin, Laurence Casagrande Lourenço, ex-secretário de Transportes e ex-presidente da Dersa, a estatal rodoviária paulista, foi preso pela Lava-Jato. Os investigadores apuram suspeitas de fraude e superfaturamento de contratos no total de 600 milhões de reais em todo o trecho norte do Rodoanel, cuja construção teve início em 2013, já no governo Alckmin. É a primeira investida da força-tarefa da Lava-Jato em um núcleo diretamente ligado ao ex-governador. No começo de junho, VEJA antecipou as acusações que recaíam sobre Lourenço e o fato de a Justiça ter autorizado a quebra de seus sigilos fiscal e bancário. À época, o executivo negou ter cometido qualquer irregularidade.

Lourenço, que até ser preso presidia a Companhia Energética de São Paulo (Cesp), é investigado por fraude na celebração de aditivos, execução fraudulenta de contratos e subcontratação irregular de empresas pela Dersa. É acusado de avalizar aditivos contratuais que resultaram em um superfaturamento de 33 milhões de reais. Outros seis funcionários e ex-funcionários da Dersa também foram presos temporariamente na operação.

As investigações sobre o trecho norte do Rodoanel começaram em 2015, depois que um ex-prestador de serviços da obra, João Bosco Gomides, se desentendeu com Lourenço e foi impedido de continuar trabalhando no Rodoanel. Indignado, ele decidiu contar o que sabia ao Ministério Público Federal. Gomides informou aos procuradores que engenheiros deixaram de atuar na obra por não aceitar a criação de um aditivo com a OAS, que executava trabalhos de terraplenagem no empreendimento. Um dos engenheiros, Emilio Squarcina, referendou as informações de Gomides em depoimento e mostrou documentos para provar que não havia justificativa técnica para os aditivos.

Os dados fornecidos por Squarcina não só ajudaram os procuradores a investigar irregularidades no aditivo — também suscitaram a suspeita de que todo o contrato de terraplenagem com a empreiteira tivesse sido superfaturado. Recorrendo ao velho método de roubar em obras públicas, a OAS teria vencido o certame com o preço mais baixo por metro cúbico de obra — 16 reais — e, depois de celebrados os aditivos, subiu o preço para 46 reais, quase o dobro do orçamento inicial, de 27 reais. O Tribunal de Contas da União e o Ministério da Transparência foram acionados para investigar a construção, que recebe recursos da União. Em relatório de auditores ainda não julgado pelos ministros da Corte de Contas, verificou-se sobrepreço de 55 milhões de reais em apenas um aditivo da OAS. Os investigadores também apuram irregularidades em contratos firmados com a Mendes Junior. As procuradoras do caso, Anamara Osório e Thaméa Danelon, afirmam que parte das fraudes nos aditivos ocorreu mesmo depois da deflagração da Lava-Jato, em março de 2014. Três diretores das duas empreiteiras também foram alvo da Operação Pedras no Caminho.

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Lourenço foi diretor da multinacional de inteligência Kroll antes de se juntar ao núcleo duro de Alckmin, em 2011, a convite de Saulo de Castro Abreu, então secretário de Transportes do ex-governador e seu braço-­direito no Palácio dos Bandeirantes. Uma de suas funções era investigar os malfeitos ocorridos na estatal na época de José Serra e separá-los da nova gestão, delimitando fronteiras na atuação dos dois tucanos. Lourenço entrou na Dersa depois da saída de Paulo Preto, o ex-diretor que se tornou freguês da Justiça. Réu em um processo que apura peculato nas obras do Rodoanel, e investigado desde que foi acusado por delatores da Odebrecht e da Andrade Gutierrez de ter operado caixa dois para políticos tucanos, Paulo Preto vem tirando o sono do tucanato. Agora, não é mais o único.

Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588

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