São inúmeras frentes, da economia à saúde, da educação à cultura, das relações humanas ao mundo do trabalho. Com uma intensidade absolutamente inesperada, a Covid-19 abalou as estruturas em todo o planeta — e o Brasil não foi exceção. Entre os diversos desafios impostos pela pandemia, está por exemplo a obrigação de tomar decisões urgentes no combate à doença, ao mesmo tempo que médicos e cientistas ainda se debruçam sobre microscópios em centros de pesquisa para tentar entender melhor as características e o comportamento do vírus. Como se fosse uma guerra (embora nada criativa, a comparação é cada vez mais adequada), o exército de contenção precisa desenvolver estratégias em meio ao bombardeio de um pouco conhecido e dissimulado exército invasor. Em um primeiro momento, acreditava-se que seria quase desprezível a taxa de mortalidade dos infectados fora dos chamados grupos de risco — idosos e pessoas com problemas respiratórios ou baixa imunidade. Pois dados computados na China acenderam uma luz amarela quanto a essa questão: a taxa de óbito de pacientes abaixo de 60 anos é de 18% no gigante asiático. No Brasil, onde a doença está em fase inicial, esse índice é de 11%. Hipóteses como comportamento de risco e má alimentação começam a ser levantadas para tentar explicar o fenômeno.
Na reportagem que se inicia na página 36, enfrentando os riscos e as condições adversas de trabalho dos tempos de coronavírus, uma equipe de jornalistas de VEJA foi a campo não só em busca de respostas a essas perguntas, mas também para contar as histórias dos brasileiros que já padeceram da doença. Muitos deles eram jovens saudáveis e cheios de planos, até terem a vida abruptamente interrompida. Essas vítimas, mesmo que nem todos demonstrem sensibilidade para perceber, não são apenas números nos relatórios divulgados pelo governo. Elas representam a dimensão humana, o lado dramático, de um grave problema que o Brasil precisa encarar, com união e organização das autoridades, iluminadas pelo farol do conhecimento científico. O inimigo, presidente Jair Bolsonaro, não está no Congresso, no Supremo Tribunal Federal, no seu ministério ou nos governos estaduais. O inimigo real, aquele que precisa ser derrotado, é o vírus.
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Clique e AssineInfelizmente, essa terrível guerra, certamente a mais importante desta geração, está apenas no começo. E as próximas semanas serão fundamentais para que as estatísticas de infectados e vítimas não saiam de controle — daí a necessidade de reclusão e isolamento social nesta hora tão crucial deste combate. Nenhuma nação que se pretenda civilizada e responsável pode ficar indiferente às mortes que acontecerão nos difíceis dias que virão e ao desafio que o momento nos impõe.
Publicado em VEJA de 8 de abril de 2020, edição nº 2681