A nova era de investigações de corrupção que o Brasil passou a viver desde o lançamento da Lava-Jato trouxe uma certeza unânime e algumas dúvidas. A certeza é que a tradicional impunidade dos crimes de colarinho-branco não fez nada bem ao país, e o combate a esse tipo de ilegalidade precisa ser severo e incessante. Entre os questionamentos, está o inescapável debate sobre a correção da atuação da trindade institucional que mais lida com o assunto: a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça.
Foi nesse contexto que houve um choque quando o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, cometeu suicídio, em 2 de outubro. Preso e, depois de solto, proibido de entrar no câmpus da UFSC, Cancellier acabou pondo fim à própria vida diante da suprema humilhação que enfrentou, o que levanta questões sobre a forma como foi tratado pelas instituições.
Para jogar luz no caso, VEJA destacou dois profissionais experimentados: Monica Weinberg, chefe da sucursal carioca da revista, e o editor Thiago Prado, também baseado no Rio de Janeiro, que se transferiu por alguns dias para Florianópolis, onde Cancellier se suicidou. A apuração de VEJA aponta os erros nas investigações, tão açodadas que, passado um mês da morte do reitor, não trouxeram nenhum indício consistente do que quer que seja.
Durante 24 dias, os jornalistas de VEJA deram noventa telefonemas e fizeram 33 entrevistas, que somaram setenta horas. Com alguns dos personagens da tragédia, chegaram a conversar diariamente para reconstituir situações, tirar dúvidas e checar detalhes capazes de dar ao leitor a melhor versão possível do que aconteceu. Para medir a distância entre o apartamento do reitor e o câmpus, por exemplo, Prado contou o número de passos do caminho: 230 — para ter certeza, foi e voltou três vezes.
Apenas dez pessoas se recusaram a conversar com VEJA, por motivos diversos. Entre as mais de três dezenas que receberam a reportagem, muitas tiveram dificuldade de abordar um assunto tão pungente. “Algumas se sentiram, de certa forma, aliviadas por poder falar. Outras foram se abrindo aos poucos”, diz Monica. Seguindo cada pista, VEJA chegou à derradeira foto do reitor, ao laudo da psiquiatra que o atendeu, à última pessoa com quem ele conversou, aos dois conhecidos que cruzaram seu trajeto até o shopping Beiramar e à descrição detalhada das imagens da câmera de segurança do shopping que registrou seu salto para a morte.
Publicado em VEJA de 15 de novembro de 2017, edição nº 2556