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Carta ao Leitor: O tamanho do rombo

Quando bem executada, a privatização gera mais empregos, mais investimentos e impostos para o Tesouro; a turma do atraso, no entanto, tem vencido

Por Da Redação Atualizado em 4 jun 2024, 14h01 - Publicado em 4 dez 2020, 06h00
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  • Devido à urgência e necessidade, um dos pontos cruciais do programa econômico desenhado pelo ministro Paulo Guedes foi a privatização das empresas estatais. Assim que assumiu, Guedes prometeu encarar de forma prioritária o problema, estipulando prazos e entregando a tarefa a um nome respeitado da iniciativa privada, o empresário Salim Mattar. Lamentavelmente, em agosto, o fundador da Localiza deixou o governo, sem evoluir em suas atribuições — o que está longe de ser um sinal de incompetência. Realizar um amplo programa de privatização no Brasil é uma tarefa árdua, que enfrenta manobras protelatórias de toda espécie por confrontar uma vasta rede de apadrinhamentos políticos e fileiras cerradas de setores do governo movidos pelo corporativismo. Até agora, infelizmente, a turma do atraso — que atrapalha o desenvolvimento do país — tem vencido.

    A reportagem que começa na página 48 desta edição traz um levantamento inédito a partir de um documento produzido pelo Ministério da Economia, elaborado para calcular o peso das estatais nos cofres da União. Nos últimos cinco anos, essas empresas custaram ao governo federal nada menos que 71 bilhões de reais em aportes diretos. E não foi só isso. Apenas com os pagamentos de salários foram consumidos outros 101 bilhões de reais. Detalhe: parte significativa do universo estudado, dezenove das 46 empresas, opera no vermelho, com prejuízo acumulado de 22 bilhões de reais. A lista das deficitárias é encabeçada por Infraero (prejuízo de 6,4 bilhões de reais), seguida por Valec (4,5 bilhões de reais) e Codevasf (3,8 bilhões de reais). Não por acaso, a questão das estatais é um dos nove obstáculos ao crescimento econômico do Brasil, como mostrou a reportagem de capa de VEJA da semana passada.

    O passado recente é pródigo em exemplos de como a transferência de empresas públicas para a iniciativa privada pode ser positiva. Até o fim dos anos 1990, o setor de telefonia brasileiro era sinônimo de ineficiência, com sua cobertura limitada, cara e de péssima qualidade. Hoje, o país tem 230 milhões de smartphones ativos (mais de um por habitante), expansão conduzida por empresas privadas. A Vale, vendida em 1997, teve um brutal crescimento em termos de produção e lucros, transformando-se numa das maiores mineradoras do mundo. A empresa, que tinha 15 000 funcionários, hoje gera 73 000 empregos. A Embraer passou por situação semelhante, desde 1994. Livre das amarras do governo, a empresa se tornou uma das três grandes fabricantes de aeronaves comerciais do planeta, atrás de Airbus e Boeing. Os três casos são a prova de que a privatização, quando bem executada, gera mais empregos, mais investimentos e impostos para o Tesouro. Por outro lado, a equivocada manutenção dessas companhias sob o controle do governo só interessa a políticos corruptos e a servidores desejosos de manter privilégios. Já passou da hora de o país corrigir essa excrescência.

    Publicado em VEJA de 9 de dezembro de 2020, edição nº 2716

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