Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A bolha do caminhão

Por mais que se tente vencê-la, a lógica sempre prevalece

Por André lahóz Mendonça de Barros
Atualizado em 8 jun 2018, 06h00 - Publicado em 8 jun 2018, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Não é exatamente um livro de bolso: Oito Séculos de Delírios Financeiros — Desta Vez É Diferente, dos economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, tem quase 500 páginas dedicadas ao estudo das bolhas financeiras. Foi publicado em 2009, no ápice de uma das maiores crises da história, iniciada no ano anterior com a quebra do banco Lehman Brothers. Os autores mostram como são recorrentes os momentos de euforia, que inevitavelmente terminam mal — da onda de calotes da dívida latino-americana no século XIX à quebra da bolsa de Nova York, da bolha das tulipas holandesas à crise do subprime. O roteiro é semelhante: os sinais de alerta são ignorados e as lições da história, desprezadas. Afinal, desta vez será diferente…

    Publicidade

    O estouro da bolha imobiliária americana em 2008 prostrou a economia global por quase uma década. No começo, porém, o tsunami chegou aqui como a tal “marolinha” a que Lula fez referência. Não deixava de ser um sinal de força da economia brasileira, mas, ironicamente, o sucesso inicial acabou produzindo a mãe de todas as crises, na qual ainda estamos atolados. A crescente autoconfiança do governo abriu espaço para uma infinidade de projetos concebidos para acelerar nosso desenvolvimento. A política de empresas “campeãs nacionais”. A tentativa de ressuscitar a indústria naval. A criação da super-Petrobras. O Brasil potência estava de volta.

    Publicidade

    E toda potência precisa de uma frota à altura para escoar a produção. Nascia ali o maior programa de financiamento de caminhões de nossa história: nunca antes neste país tantos caminhoneiros e transportadoras tiveram tanto crédito subsidiado. A frota aumentou 40%. Foi um caso exemplar de planejamento central: o governo tomou a decisão, implantou o programa e atingiu seu objetivo. Podemos ter passado pela maior crise de nossa história, mas não por falta de caminhão.

    O episódio evidencia o estrago que pode causar um governo ruim. A mesma mentalidade intervencionista que fez a frota dar um salto gerou a violenta crise econômica dos últimos anos. Os caminhoneiros perderam duas vezes: há mais veículo a oferecer transporte e menos produto a ser transportado. A disparada no preço do petróleo e a desva­lorização da moeda completam o quadro. A frase lapidar de um dos líderes informais do movimento dos caminhoneiros em São Paulo, Jaime Tonetti, denota um entendimento da economia superior ao de nossos planejadores: “É muita galinha para pouco milho”.

    Publicidade

    Com a economia se arrastando, vai demorar a chegar mais milho. O desfecho natural seria diminuir o número de galinhas: algumas empresas teriam de sair do negócio para ajustar oferta e demanda por frete. Na prática, estamos indo para outro caminho: segurando na marra o custo do transporte e empurrando a conta para o conjunto da sociedade.

    Continua após a publicidade

    Para além do drama de milhares de caminhoneiros e do efeito na frágil recuperação, há uma questão de fundo: o que ficará para o país de todo esse imbróglio? A julgar pelas pesquisas de opinião, é grande o risco de que a culpa recaia não no centralismo estatal, mas no livre mercado. Estaria aberto o caminho para a próxima crise.

    Publicidade

     

    Publicado em VEJA de 13 de junho de 2018, edição nº 2586

    Publicidade
    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.