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A Apple se curva ao autoritarismo

Ao tirar do ar aplicativos para iPhone com os quais os usuários da China conseguiam driblar a censura estatal, a empresa abre um lamentável precedente

Por Filipe Vilicic Atualizado em 5 ago 2017, 06h00 - Publicado em 5 ago 2017, 06h00
(Arte/VEJA)

A China ganhou um novo (e inusitado) aliado para fazer valer sua tentação autoritária de censurar o uso da internet: a Apple. Em 29 de julho, um sábado, desenvolvedores de aplicativos da App Store, a loja virtual da empresa, notaram o sumiço de alguns programas do serviço. Todos os desaparecidos tinham um elemento em comum: ofereciam aos clientes uma VPN (sigla em inglês para “rede virtual privada”). O recurso permite simular o acesso à web como se estivesse sendo feito em território estrangeiro, mesmo que o usuário esteja fisicamente na China. Com isso, os chineses conseguiam driblar a censura do Great Firewall do Partido Comunista — que bane o acesso a certos sites e aplicativos no país. No início deste ano, o presidente Xi Jinping atualizou as regras para a divulgação de softwares, reiterando que apenas os autorizados seriam liberados. A Apple cedeu, dando à clientela uma explicação notável por sua síntese enigmática: “Precisamos remover apps de VPN na China que não atendem aos novos regulamentos”.

A reação dos desenvolvedores desses programas foi explosiva. Disse Sunday Yokubaitis, presidente da americana Golden Frog, ao tocar o dedo na ferida: “Demos suporte à Apple quando ela batalhou contra o FBI para não comprometer a sua segurança. Então, estamos desapontados com o fato de que a mesma Apple tenha se curvado à pressão da China”. Yokubaitis referia-se ao caso, de 2016, no qual as autoridades americanas requisitaram à companhia a criação de um software que quebrasse medidas de segurança de iPhones, com o objetivo de se ter acesso a dados de celulares de terroristas. Tim Cook, CEO da empresa, disse não, alegando o direito à privacidade de clientes. Desta vez, Cook não se manifestou sobre os motivos que o teriam levado a vacilar em face da idêntica questão da liberdade de escolha dos usuários. Em situações pontuais, outros gigantes, como o Google, aceitaram exigências insensatas dos chineses. Contudo, a situação da Apple é mais delicada — em razão de seus produtos influenciarem hábitos de toda a sociedade. A submissão provavelmente ocorreu porque a fabricante tem receio de ser expulsa do país asiático, seu segundo maior mercado, atrás dos EUA — e no qual vem apresentando resultados desanimadores. O preocupante é que essa postura poderá servir de precedente para que outros Estados autoritários, como a Rússia, se sintam à vontade para fazer exigências similares. É lamentável.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2017, edição nº 2542

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