“Nós somos mais numerosos.” Foi esse o lema que cerca de 50 000 pessoas abraçaram em um concerto que reuniu bandas de punk, indie rock e rappers na cidade de Chemnitz, no Estado alemão da Saxônia, na segunda 3. Algumas usavam camisetas com frases contra os nazistas e portavam bandeiras com as cores do movimento LGBT e da União Europeia. A manifestação era uma resposta contundente à aglomeração de 6 000 pessoas que, na semana anterior, tomaram a praça principal de Chemnitz. Na ocasião, em frente a uma estátua de 7 metros de altura de Karl Marx (a cidade fica na antiga Alemanha Oriental), neonazistas e hooligans saíram para mostrar indignação contra o assassinato de Daniel H., um jovem de 35 anos que trabalhava em uma firma de limpeza. De pai cubano e mãe alemã, ele se envolveu em uma briga com um refugiado iraquiano e um sírio quando ia sacar dinheiro de um caixa eletrônico. O iraquiano, que dias antes tivera o pedido de asilo negado, esfaqueou Daniel, que morreu no hospital. Horas depois, grupos de extrema direita se juntaram na praça, jogaram garrafas contra os policiais, perseguiram jovens que pareciam estrangeiros, fizeram a saudação nazista e gritaram “Nós somos o povo”. O deputado Markus Frohnmaier, da AfD, partido da direita radical nacionalista, escreveu no Twitter: “Se o Estado não é mais capaz de proteger os cidadãos, nós iremos para as ruas para nos proteger”. Coube à primeira-ministra Angela Merkel trazer de volta a civilidade, através de seu porta-voz: “Nós não toleramos grupos ilegais que perseguem pessoas que parecem diferentes ou têm outras origens. Não há lugar na Alemanha para milícias querendo fazer justiça, para grupos que espalham o ódio nas ruas, para a intolerância ou para o extremismo”. Seu chamamento colocou 50 000 pessoas no centro de Chemnitz.
Publicado em VEJA de 12 de setembro de 2018, edição nº 2599