Vizinhos de Sergio Moro aprovam Lava Jato e repelem petismo
No Bacacheri, bairro de classe média de Curitiba, onde o juiz reside, moradores avaliam positivamente o trabalho do magistrado; por ali, Lula não tem vez
Desde a eclosão da Operação Lava Jato, o juiz Sergio Moro, que conduz as investigações, tornou-se a principal figura do Bacacheri, bairro pacato na Zona Norte de Curitiba (PR), com cerca de 24.000 moradores. Ele é praticamente uma unanimidade entre seus vizinhos, que aprovam o seu trabalho.
Já quando o assunto é política, o posicionamento comum é o antipetismo, algo ainda mais aflorado do que no restante da cidade. Nas oito seções eleitorais do Clube Duque de Caxias, o mais próximo da residência do magistrado e onde ele mesmo vota, Aécio Neves (PSDB) bateu 82% dos votos válidos contra 18% de Dilma Rousseff (PT) no segundo turno da eleição presidencial de 2014, ano em que a força-tarefa sobre os desvios na Petrobras foi deflagrada. Na capital paranaense como um todo, o tucano fez 72% contra 28% da petista.
“Quem colocou a gente na situação ruim em que estamos, me desculpe a franqueza, foi o PT“, diz o aposentado Noel Tavares, 60. Depois de deixar o trabalho na lavoura do algodão, no Norte do Paraná, Tavares foi morar com a família no bairro de Moro há dez anos. Diz não estar interessado nas próximas eleições — “não sei nem os nomes dos candidatos” — , mas garante aprovar o trabalho do juiz. “Está certo. Tem de apertar esse povo mesmo”, afirma ele, que vê o vizinho famoso de quando em quando, caminhando no parque ou na padaria.
Vitoria Perini, 22, trabalha na panificadora da família, que fica no bairro do magistrado. “Ele é discreto e tranquilo, mas tem um pessoal que sempre pede para tirar foto. Ele cumprimenta todo mundo, mas não gosta de foto”, diz. Para ela, a Lava Jato é importante para mudar o cenário político brasileiro, mas não vê o futuro com otimismo. “É um passo que está sendo dado, mas é um processo longo. Se o Lula não estivesse preso talvez até fosse eleito, né?”, questiona. Vitória ainda não tem candidato, não “parou pra acompanhar com calma”.
O mecânico Carlos Cortellete Belli, 60 anos, também não escolheu em quem votar e afirma não lembrar em que votou nas últimas eleições. “Só sei que na Dilma e no Lula eu nunca votei”, garante ele, que mora no mesmo lugar desde que nasceu. É uma casa de alvenaria, com uma oficina mecânica anexa, perto de onde Moro vive com a esposa e os filhos. É uma construção bastante comum por ali. No bairro, casas antigas dividem espaços com prédios menores, de até oito andares.
Como os colegas do bairro, Belli aprova o trabalho do vizinho e não vê o futuro com esperança. “Ele está fazendo a parte dele, mas tem muitos outros pra prender. Vai ser meio difícil consertar isso, porque é muita corrupção. Vai desde o vereador até lá em cima, nos mais poderosos”, diz.
O professor universitário Carlos Roberto Oliveira de Almeida Santos, 54, classifica a carreira do juiz como “brilhante”. “É estudioso e sempre buscou se especializar”, diz. Ele conta ter tido proximidade com o magistrado há algum tempo. “Nossos filhos treinavam na mesma escola de futebol. Por isso ficávamos lá conversando. Falávamos de amenidades, dos nossos trabalhos e principalmente do futebol dos meninos”, recorda.
Conforme a Lava Jato ia crescendo, a participação de Moro na escolinha foi diminuindo, conta Santos. “Ele chegou a ir algumas vezes já com seguranças por perto. Aí parou. Não foi mais. Não sei se o menino dele ainda faz a escolinha de futebol.”
Santos é filiado a um partido político e pretende dar seu voto a todos os candidatos da legenda. “Vou votar no João Amoêdo e nos outros candidatos do Novo. Eu me identifiquei com a linha liberal do partido, que além disso não usa fundo partidário, algo que eu concordo. Os partidos que vão procurar seus recursos com seus filiados e simpatizantes”, explica.
Já o marceneiro Luis Carlos Klos, 53, eleitor de Marina Silva na eleição de 2014, diz que não deve repetir o voto na candidata da Rede. “Infelizmente, ela é o tipo de pessoa que some. Acontece que se alguém quiser fazer alguma coisa nesse país vai ter de se expor”, ressalta ele, que morou a vida toda na mesma casa, próxima ao prédio de Moro. Para 2018, garante não ter candidato. “Desses que se apresentam não tem nenhum que empolgue.”