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No papo do crossfit, a busca por um candidato que levante do chão

Acostumados à malhação extrema, praticantes da modalidade não querem nomes radicais; VEJA conversou com alunos de espaço na Zona Leste de SP

Por Mariana Lajolo
Atualizado em 9 Maio 2018, 18h02 - Publicado em 8 Maio 2018, 07h00

No CrossFit Pantai, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, a música alta embala o “wod” (“work of the day” ou treino do dia, em inglês). Ouvem-se risadas, algumas conversas, mas o foco é mesmo trabalhar o corpo, levantar o máximo de peso possível e superar limites.

São pessoas na casa dos 30 e 40 anos, que pagam mensalidades a partir de 250 reais para treinar a modalidade que consiste em exercícios funcionais de alta intensidade, combinando movimentos de levantamento de peso olímpico, ginástica artística e atletismo — há também competição entre boxes, como são chamados os locais de treinamento.

Fora da aula, no entanto, os “crossfitters” revelam preocupações muito maiores do que a força dos braços e o resultado das suas competições. A disputa que mais preocupa é outra: a eleição de outubro, que vai escolher o novo presidente da República.

As conversas sobre política acontecem nas festas, nos churrascos aos fins de semana e, principalmente, nos grupos de WhatsApp, que são quentes e duram horas a fio. Costumam dizer que, em ano de Copa do Mundo, ninguém sabe os nomes dos onze titulares da seleção, mas todos conhecem os onze ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Muitos se definem como “conservadores”, com uma visão mais liberal da economia e aversão a extremos, para ambos os lados. Compartilham também da angústia de quem constata a falta de novos nomes da direita, que sejam competitivos como eles, com reais chances de vitória.

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Um dos nomes aventados é o de João Amoêdo, que deixou o mercado financeiro para ajudar na criação do Partido Novo e é pré-candidato à Presidência. “Têm se falado muito no Amoêdo. É uma boa opção, mas sem tempo de TV, sem propaganda, com a mídia já fazendo pouco de seu partido, quais as chances de ser eleito? E se for, como vai governar sem base?”, pondera Cauê Pavoni, empresário de 31 anos.

Morador do Tatuapé e formado em agronomia, entrou no ramo de revenda de peças para máquinas para dar continuidade à empresa que o pai criou. Sua primeira opção na eleição seria Geraldo Alckmin, pré-candidato pelo PSDB, mas as suspeitas de corrupção que pairam sobre o ex-governador de São Paulo podem levá-lo a mudar de opinião.

“O PSDB entrou na Lava Jato como o PT e o MDB. Não sei se já mudei meu voto, mas se for provado que ele também se envolveu em corrupção, vai ser eliminado”, diz.

Mex Abrusio, 41, empresário que trabalha numa fabricante de acessórios para crossfit, está mais decidido: vai votar em Amoêdo mesmo acreditando que ele tem poucas chances de ser eleito.

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Corrupção e populismo

O defeito mais grave que um candidato pode apresentar está muito claro para todos desse box: ser corrupto. Outro bastante citado é o populismo.

“O primeiro cara de quem vou fugir é o que vier com esse discurso (populista). Já fomos seduzidos por ele e deu no que deu”, diz Marcel Dias, 30, economista de formação, que tem uma empresa de equipamentos para crossfit e treinamento funcional.

“Estamos precisando de medidas drásticas, antipopulares, como a reforma da Previdência. Precisamos de alguém que mexa nas feridas. E isso ninguém quer fazer”, lamenta ele, que ainda não definiu o voto.

Os “crossfitters” ainda encaram com cautela as mudanças que a Operação Lava Jato possa gerar no sistema político, mas acreditam que o fim do foro privilegiado para os políticos mostrará que todos estão, de fato, ao alcance da Justiça.

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“A prisão dos políticos importantes, como Lula, é um marco, mas temos que avançar mais para limpar a política de verdade”, afirma Cesar Ferroni, 40, bombeiro da Polícia Militar de São Paulo, que se define como conservador. Ele também diz que não apoiaria candidatos com histórico de corrupção, mas ainda não sabe em quem votar.

“Estamos vivendo um momento de transição, mas não acredito em mudanças a curto prazo. Colocaram a prisão do Lula como um símbolo, como se o problema da corrupção no país tivesse acabado, mas não acabou”, afirma Túlio Martinez Minto, 31 anos. Sócio-fundador e diretor do escritório de advocacia que leva seu sobrenome, é especialista em direito do trabalho, tem críticas à reforma trabalhista e se coloca como uma pessoa de centro.

“O Brasil está muito polarizado. Sou contra essa ideia de quem não está comigo está contra mim. Isso não enriquece em nada o debate”, afirma. Ele ainda não escolheu o seu candidato.

Especial Política - O que as pessoas acham do atual momento político no Brasil
Túlio Martinez Minto, 31 anos, é sócio-fundador e diretor do escritório de advocacia que leva seu sobrenome; ele se coloca como uma pessoa de centro (Reinaldo Canato/VEJA.com)

Extremos, de fato, não atraem a maioria dos “crossfitters” do box Pantai. Percebe-se uma aversão muito maior à esquerda, mas Jair Bolsonaro tampouco é visto com bons olhos.

O único admirador do pré-candidato à Presidência pelo PSL — e alvo de brincadeiras do grupo por conta de sua opção —, Diego Fernandes, de 31 anos, também tem ressalvas em relação ao deputado federal pelo Rio de Janeiro. Formado em administração de empresas pelo Mackenzie, diz que adoraria votar em um candidato com perfil semelhante ao de Ted Cruz, considerado um dos senadores mais conservadores dos EUA, que concorreu com Donald Trump nas prévias do Partido Republicano. Vê João Amoêdo como um bom nome, mas sem chance de se eleger. Por isso, fecha com Bolsonaro.

“Tivemos vinte anos de social-democracia e de PT que derrubaram a economia. O Bolsonaro não tem rabo preso com as elites econômicas e tem uma visão mais liberal da economia, que é o que procuro”, afirma o morador do Tatuapé, gestor financeiro da empresa da família que presta serviços na área de construção civil.

“Mas ele ainda não é o liberal que eu quero. Tem um ranço da velha esquerda, de achar que precisamos ter empresas públicas estratégicas”, critica.

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Fernandez é a favor da liberação da compra de armas desde que as pessoas sejam submetidas a testes e mostrem que “estão com a cabeça boa”. “Para mim, o cidadão tem que ter o direito de se defender em qualquer aspecto, o governo não pode se colocar no meio dizendo o que é melhor para sua vida.”

Especial Política - O que as pessoas acham do atual momento político no Brasil
Formado em administração de empresas, Diego Fernandes, 31 anos, vê João Amoêdo como um bom nome, mas sem chance de se eleger; ele fecha com Bolsonaro (Reinaldo Canato/VEJA.com)

Mesmo em um grupo majoritariamente de direita, há quem até se identifique e apoie algumas bandeiras caras à esquerda. Pavoni, por exemplo, diz ser a favor de programas sociais, como o Bolsa Família. A empresária Thais Zogb, 36, votou em Lula em 2002, quando o petista foi eleito pela primeira vez. À época, estudava na PUC-SP e tinha aulas com o advogado José Eduardo Martins Cardozo, o ex-ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff.

“Naquela eleição, o Lula era uma esperança. Eu o via como uma solução para os problemas que a gente tinha. Mas fiquei decepcionada, ele falou uma coisa e fez outra, envolveu-se em escândalos de corrupção. Nunca mais votei nele”, diz, ela, que não ainda não definiu o seu escolhido para o Planalto.

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Na zona eleitoral onde o box se localiza, nas eleições de 2014, Aécio Neves (PSDB) recebeu 59,24% dos votos no primeiro turno. Marina Silva, atualmente na Rede, ficou em segundo lugar, com 19,69%. Dilma Rousseff (PT) alcançou 14,8%.

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