Vitória no ‘tapetão’: o que dizem os deputados sacados da CCJ
Parlamentares removidos da comissão reagem de diferentes formas: alguns acusam o governo de comprar votos e outros se mostram resignados
O jogo foi jogado: o presidente Michel Temer saiu vitorioso e conseguiu que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara rejeitasse, com 15 votos de vantagem, o parecer que defendia a abertura de investigação contra ele pelo crime de corrupção. A vitória só foi alcançada após o governo entrar em campo e remover da linha de frente seus principais adversários, retirando-os da comissão ou rebaixando-os à condição de suplentes, sem direito a voto. Ao todo, quinze deputados acabaram na mira da estratégia de sobrevivência articulada por Temer e seus aliados na Câmara. “Não dá para mostrar conformismo com isso. Se nós já estamos com esse tapetão e essa compra de votos no começo, imagine como vai ser no plenário. Eu tenho absoluta convicção de que o Temer é culpado”, afirmou o deputado Major Olímpio (SD-SP), o primeiro a ser sacado do colegiado. Confira, abaixo, o que dizem os parlamentares alvos da manobra governista.
Delegado Waldir (PR-GO)
“Mexer as pedras na CCJ oferecendo emendas e cargos, configura, para mim, compra de votos. O governo usou até de ferramentas financeiras e liberou para mim 8 milhões de reais em emendas. Tentou usar o poder econômico e, como eu não mudei o meu voto, usou o seu poder de barganha. É uma conduta criminosa, é obstrução da Justiça e um desespero do presidente. O Parlamento se ajoelhou ao Executivo em troca de esmolas, perdeu sua autonomia e independência.”
Major Olímpio (SD-SP)
“Ficou claro: se não houver as trocas, o Temer não sai vitorioso na CCJ. É a compra mais podre, da forma mais torpe que pode ser, que envolve carguinhos, emendas e mais as malas que devem estar correndo por fora com os partidos. Não dá para mostrar conformismo com isso. Se nós já estamos com esse tapetão e essa compra de votos no começo, imagine como vai ser no plenário. Eu tenho absoluta convicção de que o Temer é culpado.”
Aureo (SD-RJ)
“Eu entrei na comissão em junho para cuidar de projetos de interesse da bancada. Em seguida, infelizmente, veio a denúncia contra o presidente Temer. Nós reunimos a bancada e tratamos sobre quem deveria ocupar a vaga. O partido entendeu que não era o momento de eu ocupá-la, mas eu entendo que há deputados do partido que exercerão o seu papel. Exercerei, com liberdade, meu voto em plenário.”
Expedito Netto (PSD-RO)
“Eu declarei que era favorável à denúncia contra o Temer e acabei substituído. Eu não tirei da Dilma para entregar para o Temer. Se tivermos de tirar o Temer, vamos tirá-lo também. É claro que eu fico revoltado, mas a gente tem de aceitar uma decisão partidária. Ainda assim, acho que os deputados deveriam ser respeitados em seus posicionamentos. Por que um presidente não deve ser investigado?
José Fogaça (PMDB-RS)
“Espero que a opinião pública realmente se indigne e se manifeste. A troca é absolutamente legal, mas ela pode e deve ser discutida. O que se tem são desmontes a cada etapa. Agora foi uma troca pontual, muito negativa, mas isso acontece em todos os momentos. O deputado tem que ter grandeza para entender que a decisão no plenário tem de ser de acordo com o que a sua consciência diz.”
Jorginho Mello (PR-SC)
“O partido está querendo ser fiel ao extremo ao governo, coisa que eu não concordo. Estamos passando por um novo momento no Brasil em que ninguém pode ter algum tipo de proteção, nem presidente, nem deputado, nem senador, nem vereador. Tem de investigar e passar a limpo. Não precisamos ter medo de investigar. Mas o partido comunicou que ia me substituir e tenho de compreender a minha troca.”
Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP)
“Vai ser uma vitória artificial para o governo. Se fossem mantidos os que tiraram fora, o resultado seria desfavorável. É claro que foi uma manobra e era uma troca já prevista. Acho que pega mal para o governo fazer essas trocas, mas o regimento permite que o líder faça o que fez comigo.”
João Campos (PRB-GO)
“Eu me posicionei contrário ao governo com antecedência nas redes sociais e partido resolveu me substituir. É claro que isso cria um desconforto muito grande, eu queria exercer meu direito a voto. No plenário, de qualquer forma, votarei pela investigação. Os indícios elencados pelo Janot são suficientes para considerar que a denúncia não é inepta.”
Marcelo Delaroli (PR-RJ)
Não se pronunciou, após sucessivos contatos da reportagem no gabinete, diretos por telefone e com assessor de imprensa.
Paulo Freire (PR-SP)
“Fui substituído por iniciativa do líder da bancada. Não declarei o meu voto e desconheço acordo do PR com o Planalto. Não recebi ofertas de cargos ou emendas.”
Lincoln Portela (PRB-MG)
“Externei minha posição favorável ao relatório do deputado Sergio Zveiter e à investigação contra o Presidente da República na segunda-feira, e, no dia seguinte, me colocaram na suplência da comissão. A troca é uma decisão do partido e prevista no regimento, mas é lamentável. Só pode ser motivada pelo medo de uma derrota.”
Osmar Serraglio (PMDB-PR)
“Vejo a troca com naturalidade. Eu fui consultado antes pelo partido e acatei a decisão.”
Soraya Santos (PMDB-RJ)
Não se pronunciou, após sucessivos contatos da reportagem no gabinete, diretos por telefone e com assessor de imprensa.
Esperidião Amin (PP-SC)
“Eu lamento estar vendo meu partido submetido a outro (o PMDB) que não consegue nem controlar os seus correligionários. Eu considero a troca uma condecoração à minha consciência e ao fato de não me deixar dobrar. Eu não vou, com meu voto, jogar para baixo do tapete uma investigação que é necessária. No plenário, vou votar a favor da denúncia.”
Giovani Cherini (PR-RS)
O deputado informou, por meio de sua assessoria, que está em tratamento médico e afastado de suas funções parlamentares. Dada a essa circunstância, ele considera a troca natural. Cherini não deve votar a denúncia em plenário.