Vitória de Trump anima Bolsonaro, mas também pode ser útil a Lula
Capitão aposta que terá menos dificuldade para recuperar direitos políticos, enquanto PT vê brecha para tentar consolidar frente ampla em defesa da democracia
A eleição de Donald Trump para um novo mandato de presidente dos Estados Unidos deu fôlego a Jair Bolsonaro, aliado e admirador confesso do futuro mandatário americano. Tão logo o resultado da votação foi anunciado, o capitão iniciou uma maratona de entrevistas para dizer que conta com o apoio de Trump para recuperar os direitos políticos e concorrer ao Palácio do Planalto em 2026.
Bolsonaro não detalhou como seu ídolo político poderá ajudá-lo, mas deixou claro que confia no poder e na influência global dele para acelerar a votação de um projeto de anistia no Congresso brasileiro e até para pressionar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, autor de decisão que reteve o passaporte do capitão e que, se mantida, impedirá que ele compareça à posse de Trump, marcada para janeiro.
Polarização na berlinda
Com Bolsonaro inelegível, partidos de centro e da direita debatem, há algum tempo, nomes que podem ser lançados na sucessão presidencial para enfrentar Lula ou outro candidato governista em 2026. Essas conversas se intensificaram após a eleição municipal, na qual o presidente e antecessor colheram derrotas importantes, a polarização entre os dois foi ignorada pelos eleitores e um leque de novas lideranças emergiu ou se fortaleceu nas urnas.
Hoje, há a percepção de que Lula e Bolsonaro não são tão fortes como imaginam e que ambos podem não concorrer em 2026 — ou disputar sem o apoio de legendas do Centrão, como MDB e PSD. A vitória de Donald Trump deu ao ex-presidente um novo pretexto para dizer que não sairá facilmente do jogo, que lutará até o fim pela anistia e que ele, só ele, pode levar a direita novamente ao poder, reeditando a história de seu aliado americano.
Lula e os petistas também veem pelo menos um ponto positivo no resultado da eleição nos Estados Unidos. Ela permite ao presidente e à esquerda evocar novamente o fantasma da ameaça à democracia no Brasil e, assim, pregar a reorganização e a revitalização da frente ampla que derrotou Bolsonaro — isso num momento em que aliados se consideram escanteados no governo e cogitam trilhar caminhos próprios no futuro. Trump pode ser útil aos dois lados da polarização .