‘Vergonha de ser brasileiro’, diz Ciro sobre ataques a venezuelanos em RR
Pedetista classifica perseguição a refugiados da Venezuela como 'canalhice' e 'desumanidade' e cita que Colômbia foi mais afetada por migração do que Brasil
O candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, classificou como “desumanidade” e “canalhice” as agressões de brasileiros a venezuelanos em Paracaima (RR), no último sábado, 18, que fizeram com que cerca de 1.200 refugiados da Venezuela deixassem o Brasil e voltassem ao país comandado por Nicolás Maduro. Diante das imagens dos confrontos, o presidenciável afirmou que, pela primeira vez, sentiu “vergonha de ser brasileiro”.
“Eu nunca me senti com vergonha de ser brasileiro, me senti ontem, quando eu vi nacionais, pessoas do Brasil, queimarem roupa de quem já está miserável e sendo humilhado porque não consegue sobreviver no seu país, mulheres, crianças. O Brasil está doente, tem uma parte da sociedade brasileira que está muito doente”, disse Ciro a jornalistas, após um evento da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) com presidenciáveis, em São Paulo.
O pedetista culpou o governo do presidente Michel Temer (MDB) pela crise com imigrantes venezuelanos em Roraima, aos quais se referiu como “irmãos da Venezuela”, e atribuiu os ataques em Paracaima ao “ódio que está se disseminando no debate político, especialmente pelo [Jair] Bolsonaro [candidato do PSL]”.
Ciro ainda lembrou que a Colômbia é o país mais afetado pela migração de venezuelanos desde que a crise no país comandado por Nicolás Maduro se intensificou, sem que, no entanto, tenha havido episódios semelhantes em solo colombiano.
“Estamos vivendo uma crise humanitária, estamos falando de 40.000, 50.000 venezuelanos, que é muita coisa, mas a Colômbia foi ocupada por mais de 500.000 venezuelanos e não há nenhuma notícia de desumanidade, de grosseria, que canalhice, que é o que aconteceu ontem no Brasil. Pela primeira vez na minha vida senti vergonha de ser brasileiro”, repetiu o candidato do PDT.
O presidenciável ainda lembrou as recentes separações de pais e filhos brasileiros que imigraram ilegalmente aos Estados Unidos, promovidas pelo governo do republicano Donald Trump. “O Brasil tem que lembrar que temos milhões, e não milhares, de brasileiros dispersos pelo mundo inteiro. Temos que lembrar que outro dia Donald Trump separou crianças brasileiras dos seus pais”, declarou.
Os conflitos deste sábado aconteceram depois de um assalto a um morador de Paracaima, que teve a casa invadida e foi espancado por quatro venezuelanos. Raimundo Nonato de Oliveira, de 55 anos, foi levado a um hospital de Boa Vista, a capital de Roraima.
Brasileiros perseguiram refugiados venezuelanos pela cidade, expulsaram-nos de acampamentos e queimaram seus pertences, além de agredirem os imigrantes com pedras e pedaços de pau. Segundo o Exército, cerca de 1.200 venezuelanos deixaram o Brasil depois dos ataques.
No domingo, 19, Michel Temer e um grupo de ministros o decidiram pelo envio de 120 homens da Força Nacional de Segurança e 36 voluntários na área de saúde a Pacaraima.
Decisão da ONU sobre Lula ‘não é normativa’
Assim como o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes disse a jornalistas, após o fórum da Abdib, que a recomendação do Comitê de Direitos Humanos da ONU para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não seja impedido de concorrer na eleição presidencial não tem força normativa.
Ciro ressaltou que a resolução não foi tomada pelo alto comissariado das Nações Unidas e afirmou que “está se fazendo brincadeira com coisa muito séria”. “O alto comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que é integrado por embaixadores, representantes de países, não refletiu sobre esse assunto. Existe um comitê de acompanhamento, sem nenhuma força normativa, sem nenhuma força na hierarquia dos tratados e convenções internacionais, que fez uma recomendação, mas ela não tem efeito normativo”, disse o presidenciável.
Há duas semanas, Ciro Gomes declarou que o PT “engana” o eleitor ao registrar a candidatura de Lula ao Palácio do Planalto. Caberá ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir se o petista, condenado em segunda instância e enquadrado na Lei da Ficha Limpa, poderá ou não concorrer. Os processos relativos ao registro de Lula estão sob responsabilidade do ministro Luís Roberto Barroso.